Shazam! (Shazam!, 2019) é a prova de que as piadas sobre as adaptações ruins da DC para o cinema estão com os dias contados. Depois dos sucessos de público e crítica de Mulher Maravilha e Aquaman, a estreia de mais um filme de gênese sobre heróis da franquia vem reforçar a guinada: definindo um novo estilo, mais equilibrado entre drama e comédia sem negligenciar as sequências de ação, o personagem, pouco conhecido por quem não é "iniciado", tem uma chance de ouro de entrar para o panteão dos grandes heróis reconhecidos pelo grande público. Divertido e com trama fácil de ser compreendida, o roteiro faz o interesse da audiência crescer aos poucos e não decepciona quando chega ao clímax.
O menino Thad é levado a um templo onde tudo vai começar: a origem do vilão marca o início cronológico da trama |
Usando uma lógica cronológica para a criação do herói, foi preciso começar a história de um jeito diferente: mostrando os vilões. O menino Thad Silvana (Ethan Pugiotto) viaja com o pai e o irmão para a casa do avô quando acaba sendo transportado para um lugar mágico, destacado do espaço e do tempo. Fora convocado pelo Mago Shazam (Djimon Houson) para ser testado e se provar um Campeão da Humanidade, um herói capaz de receber os poderes mágicos de Shazam (uma sigla que reúne poderes de deuses e heróis mitológicos) e de combater os Sete Pecados Capitais. Encantado com a possibilidade de provar para o pai e o irmão que não é um inútil, Thad se deixa seduzir pelo poder - o que o torna indigno aos olhos do Mago e acaba sendo expulso do lugar. Aquilo marcará para sempre a vida do garoto. O Mago Shazam, por sua vez, não desiste de encontrar seu substituto e lança um feitiço para encontrar um jovem puro de coração - não importa quanto tempo passará.
Billy (Angel) e Freddy (Grazer): uma amizade que não começa com o pé direito |
Assim, chegamos aos dias atuais e ao encrenqueiro Billy Batson (Asher Angel, da série Andi Mack). O garoto se perdeu da mãe quando criança, mas jamais desistiu de procurar por ela. Por isso, vivia fugindo de institutos para menores e da adoção - até ser acolhido pela família Vásquez. Lá, seus pais adotivos Victor (Cooper Andrews) e Rosa (Marta Milans) cuidam de seus outros filhos adotivos em um lar um pouco caótico, mas repleto de amor. As crianças recebem Billy à sua forma: Eugene Choi (Ian Chen) é o nerd viciado em videogame que mal o percebe chegar, Darla Dudley (Faithe Herman, a Annie de This Is Us) é a amorosa caçula, uma atarefada Mary Bromfield (Grace Fulton, de Revenge), o introvertido Pedro Peña (Jovan Armand, de The Middle) e o nerd Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer, de It: A Coisa), seu novo companheiro de quarto.
Thad cresceu e se tornou o Dr. Silvana (Strong), o arquiinimigo de Shazam |
Apesar da nova família parecer legal, Billy ainda não se encaixa - mesmo seus irmãos fazendo de tudo para que ele se adapte melhor à casa e à escola. Arredio, ele evita muito contato com os novos irmãos - mas tudo muda quando ele é encontrado pelo feitiço do Mago Shazam e acaba recebendo os poderes dele - a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor físico de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio. Transformado em um adulto superpoderoso de uma hora para a outra, o garoto Billy vai precisar de todo o conhecimento nerd de Freddy para se adaptar à nova situação. Mas ao mesmo tempo em que surge o novo Shazam (interpretado na parte adulta por Zachary Levi), emerge o vilão Dr. Silvana (Mark Strong, o Merlin de Kingsman) - a versão adulta do pequeno Thad, obcecado em descobrir mais sobre sua estranha experiência em um mundo paralelo para se vingar do Mago que o renegou.
Descobrindo os próprios poderes: um herói não-convencional e genuinamente divertido |
O apelo cômico de um super-herói que é, na verdade, uma criança, podia ter descambado para o humor pastelão e tornado Shazam! um erro catastrófico, mas alguns ingredientes não deixaram essa receita desandar. Primeiro acerto, o elenco mirim. A escolha de Grazer para interpretar Freddy Freeman e o carisma dos outros envolvidos foi um tiro certeiro. Segundo, a escolha de enxugar o roteiro para o mínimo necessário e a forma linear de contar a estória. A cadeia de eventos está toda conectada, com uma crescente de riscos até o confronto inevitável - e mesmo com várias homenagens escondidas para os fãs, é possível para todos acompanharem o desenrolar da trama. Mas o ingrediente mais importante é, sem dúvida, o bom humor. Leve, divertido, ingênuo, sarcástico, pontuado. Não há excessos nesse quesito (embora alguns exageros sejam permitidos na interpretação de Levi, mas que não comprometem o desempenho dele nem o do filme), e as situações não são forçadas para que haja comicidade. Méritos para os roteiristas Henry Gayden e Darren Lemke e a direção de David F. Sandberg (Annabelle 2), que claramente deixou os atores confortáveis em cena e orquestrou a produção com segurança e objetividade. Outros pontos positivos são a maravilhosa trilha sonora e os efeitos especiais, que não roubam a cena.
As crianças Pedro (Armand), Eugene (Chen), Freddy, Darla (Herman) e Mary (Fulton) são um dos muitos acertos do filme |
Assim, Shazam! pode surpreender o espectador que não espera muito do filme do herói, deve agradar aos fãs - que há décadas esperam vê-lo voltar à popularidade que teve no passado - e pode renovar seu público (ao sair da sala de cinema, acredito que muitos procurarão saber mais sobre o herói), sendo capaz de agradar também aos pequenos. Aguardem a sequência de créditos, pois há duas cenas finais (uma é importante, a outra é engraçadinha). E já posso dizer que estamos ansiosos por uma nova aventura - e, quem sabe, uma possível participação nas sequências da Liga da Justiça.
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