X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix, 2019) chega aos cinemas para encerrar um ciclo: a era dos filmes de mutantes iniciada em X-Men: Primeira Classe (2011) renovou o grupo de heróis e agora chega ao seu capítulo final - mesmo que ele não seja tão épico quanto o desenhado. A personagem principal, Jean Grey/Fênix Negra é uma das mais poderosas mutantes do universo Marvel e sua instabilidade emocional a torna ainda mais perigosa. Esse é o mote principal do longa de Simon Kinberg, que dirige e assina o roteiro (junto com o time de criação original da saga nos quadrinhos), porém a premissa parece um tanto subaproveitada no resultado final.
Passado no início dos anos 1990, o ambiente para os mutantes é bem melhor: depois de terem salvado o mundo da ameaça do super mutante Apocalipse (Oscar Isaac) em X-Men: Apocalipse (2016), o grupo liderado por Charles Xavier (James McAvoy) e toda a raça mutante passou a ser tolerada - e até admirada - por seus méritos. Raven/Mística (Jennifer Lawrence), porém, ainda se incomoda com o posicionamento de Xavier, que continua a arriscar suas vidas para proteger os humanos. E a tensão entre eles só aumenta após uma arriscada e grandiosa missão espacial - para a qual eles não estavam preparados para agir.
O grupo se arrisca em missão espacial: seria muito para os X-Men? |
Um ônibus espacial enfrenta algum tipo de interferência eletromagnética inexplicável e os X-Men são acionados para o resgate. Todo o time é convocado: Hank McCoy/Fera (Nicholas Hoult), Scott Summers/Ciclope (Tye Sheridan), Jean Grey (Sophie Turner), Pietro Maximoff/Mercúrio (Evan Peters), Ororo Munroe/Tempestade (Alexandra Shipp) e Kurt Wagner/Noturno (Kodi Smith-McPhee) vão em socorro dos astronautas e Jean acaba atingida pela "tempestade cósmica" que ameaçava a nave. Absorvendo seu poder, consegue sobreviver e deixa a todos espantados. De volta à Terra, são e salvos, Jean demonstra estabilidade - mas seu comportamento ligeiramente atípico deixa os outros em alerta. Ao mesmo tempo, uma silenciosa invasão alienígena ocorre e os invasores transmorfos, liderados por Vuk (Jessica Chastain, quase irreconhecível com uma peruca loira), parecem atraídos pelo poder cósmico absorvido por Jean.
As memórias da infância de Jean (Summer Fontana) começam a vir à tona depois do incidente |
A energia cósmica está modificando o DNA de Jean, tornando-a ainda mais poderosa. Suas fragilidades, porém, também vêm à tona. Os bloqueios mentais que Xavier usou para protegê-la das lembranças ruins de sua infância estão se desfazendo, e a jovem encontra dificuldades para conter toda a raiva acumulada. Seus poderes ampliados a fazem encontrar seu pai, que ela acreditava estar morto, mas o encontro não termina como o esperado. Assutada e com medo do próprio poder, Jean foge em busca de ajuda e proteção - mas nem mesmo Erik Lehnshserr/Magneto (Michael Fassbender) é capaz de ajudá-la. Assim, Jean se torna presa fácil para Vuk, que se aproxima da jovem na intenção de usar seu novo poder - ou de arrancá-lo dela, se for necessário.
Vuk (Chastain) e seu grupo tomam forma humana: querem se apossar da energia cósmica |
É difícil medir o impacto de Fênix Negra dentro da franquia. Se ele não é apenas uma segunda versão do mal-fadado X-Men 3: O Confronto Final (as mudanças nesse roteiro foram significativas o suficiente para torná-lo um outro filme), como capítulo final de uma era cinematográfica, ele é bem chocho. De fato, sendo a história de uma das mutantes mais poderosas e a versão de uma das sagas mais amadas pelos fãs, o filme é "pequeno" para a grandiosidade da personagem. Fica clara a intenção de focar nas emoções e nos dilemas morais e pessoais, mas alguns recursos usados são bem ruins e/ou apressados - e aqui eu me refiro ao alegado lado manipulador e egocêntrico de Xavier e ao péssimo desenvolvimento do triângulo amoroso (!) entre Mística, Fera e Magneto. Mas o que realmente incomoda é o medo de arriscar e transformar a Fênix Negra na verdadeira vilã que ela pode se tornar, e usar a Vux - uma personagem nem humana, nem mutante - para representar o lado mau da história. Desperdício de oportunidade para transformar o filme de "apenas ok" para algo realmente épico.
Finalmente houve melhora na maquiagem dos mutantes, especialmente da Mística (Lawrence) |
A irregularidade do filme também se percebe por outros detalhes: se o quesito maquiagem melhorou exponencialmente (o melhor da saga até agora) e os efeitos especiais também são admiráveis, as interpretações não foram lá essas coisas. Sophie Turner parecia ainda estar atuando como a amadurecida Sansa Stark ao invés de mergulhar no dilema de Jean Grey, e até Jessica Chastain ficou parecendo mais um robô que um extraterrestre. Alguns destaques merecidos para personagens secundários na trama foram importantes também: é bem legal ver a jovem Tempestade demonstrando um pouco mais de seu poder e o Noturno finalmente entrando para a briga, além de terem dado mais espaço e importância para o Fera; porém no momento mais importante da batalha, parecem ter esquecido que o Mercúrio existia - nem para a reunião foi convocado, coitado.
X-Men reduzidos a um grupo pequeno: melhor para mostrar um pouco mais de cada um |
Com muitos altos e baixos, Fênix Negra termina com saldo neutro. Podia ter sido muito mais, mas ficou acima da expectativa de ser um filme ruim. Não se tornou memorável, porém não é o pior da franquia. As cenas de ação são muito boas, mas a estrutura - as cenas dramáticas - deixam a desejar. No fim, a experiência em 3D-IMAX foi positiva e faz valer o ingresso e a pipoca, apesar de acreditar que o recurso não é indispensável para a projeção. Agora é esperar para ver o que virá no próximo reboot da saga dos Filhos do Átomo pelos Estúdios Disney.
0 comentários:
Postar um comentário