Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro (
Scary Stories To Tell In The Dark, 2019) é um filme de terror para adolescentes - e isso não é um demérito. De forma inteligente, a trama usa dos clichês clássicos das histórias de terror e das criaturas do imaginário americano (basicamente) para amarrar a narrativa. Embora não seja a ideia mais original, o roteiro de Dan e Kevin Hageman - uma adaptação do livro de mesmo nome, da trilogia de terror
teen escrita por Alvin Schwartz - consegue prender a atenção do espectador do início ao fim (muito por causa da expertise com o tema terror do diretor André Ovredal).
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Tommy (Abrams): valentão alistado para o Vietnã ajuda a ambientar a trama |
Na história, somos levados até uma pequena cidade americana nos anos 1960. Um trio de amigos, Stella (Zoe Margaret Colletti), Chuck (Austin Zajur) e Auggie (Gabriel Rush) se preparam para curtir o feriado do Halloween - o último em que o valentão da escola, Tommy (Austin Abrams), vai lhes perturbar. Tommy se alistou para a Guerra do Vietnã, e por isso os jovens preparam uma pequena vingança pelos anos de
bullying sofridos. A vingança não dá muito certo e o grupo acaba se escondendo da perseguição de Tommy no carro de um jovem, Ramón (Michael Garza), em um drive-in. De passagem pela cidade, o jovem acaba se encantando por Stella e não resiste a um convite para aproveitar melhor o feriado: visitar uma casa abandonada.
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Auggie (Rush), Chuck (Zajur), Ramón (Garza) e Stella (Colletti) com o livro de Sarah Bellows |
A casa pertencia à família Bellows, muito rica e influente. Segundo a lenda contada por Stella, Sarah, a caçula da família, havia enlouquecido e sido trancada no porão - porém ninguém jamais achara o quarto nem souberam explicar o que aconteceu com os outros integrantes da família, que desapareceram sem deixar rastro. A casa abandonada virou local de visitação dos curiosos, especialmente no Halloween, mas estava trancada desde o desaparecimento recente de um rapaz. Ao invadirem a casa, Stella e Ramón encontram o quarto secreto e um livro onde Sarah anotava histórias assustadoras. A tentação de ler o livro foi grande demais para Stella, cujo maior sonho é ser escritora, e ela deseja que Sarah lhe conte suas histórias - e quando Sarah começar, o grupo inteiro sofrerá as consequências.
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Não coma isso, Auggie! |
O principal fator do filme é o uso inteligente dos clichês, e os mais famosos estão aqui: a casa abandonada, o fantasma no porão, o livro enfeitiçado, o espantalho vivo, o hospital psiquiátrico. A diferença é que eles estão sendo bem utilizados à serviço da trama, que ajudam a equilibrar a leve tensão e um toque de bom humor em mistura homogênea. Em momento algum o longa de Ovredal tenta reinventar o gênero ou subestima o conhecimento prévio do espectador fã de terror, mesmo que mais velho: ele apenas usa as histórias tiradas do folclore e das lendas urbanas americanas a seu favor. Não deve se tornar uma obra-prima do Terror, mas pode ser considerado uma bela homenagem ao gênero - e até uma introdução, quase um rito de passagem, daqueles filmes infantis de bruxas para algo realmente mais assustador.
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Zoe Colletti surpreende com boa atuação em personagem ligeiramente mais complexa |
O livro em que o roteiro se inspira é, segundo algumas críticas, quase uma mistura de inventário com manual de instruções para reproduzir as histórias para um grupo; já o filme consegue transferir essa atmosfera "didática" para uma narrativa completa - portanto, o esforço dos roteiristas é recompensado. E apesar da mão ligeiramente pesada na fotografia do filme, que por vezes deixavam a tela muito escura e dificultavam a identificação de personagens e objetos em alguns momentos, há muitas cenas realmente assustadoras - e o uso inteligente dos efeitos especiais também é louvável. O clima de suspense é o ponto menos explorado - qualquer um sabe mais ou menos o que virá a seguir - mas, ainda assim, não é o suficiente para dispersar a atenção. O jovem elenco também tem suas boas surpresas, com destaque para Zoe Colletti e Austin Zajur.
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Leve tensão + doses de bom humor + boa produção + bom elenco = resultado satisfatório |
Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro é uma boa opção para quem quer levar uns sustos leves, mas não busca nada muito complexo ou aterrador. É bem provável que seu público alvo, os adolescentes, vai curtir ir em grupos para as sessões. Em geral, o filme produzido por Guillermo Del Toro não decepciona - e pode até surpreender pela qualidade do produto final. O gancho para uma sequência é quase inevitável para uma produção dessas, mas pode ser que funcione.
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