Por Ana Beatriz Marin
Todo mês de janeiro, na pequena cidade de Stip, na Macedônia, centenas de homens tiram a camisa e mergulham no rio para buscar uma cruz de madeira lançada na água pelo padre local. Diz-se que quem conseguir apanhá-la terá sorte e prosperidade ao longo do ano. Às mulheres é proibida a participação no evento. Mas, por não ser religiosa, Petúnia (Zorica Nusheva) desconhece o fato e, num impulso, pula ao encontro do objeto. Ao recuperá-lo, desata uma crise na comunidade em que vive. A partir de então, em Deus é mulher e seu nome é Petúnia, que estreia nesta quinta-feira (26), a diretora Teona Strugar Mitveska discute temas como machismo, intolerância religiosa - e a sempre maléfica associação desta com a política -, arquétipos femininos e até o papel da imprensa.
Petúnia tem 32 anos, está solteira, gorda, desempregada há tempos e se sente feia e infeliz. É, aos olhos da mãe, com quem ainda vive e é maltratada psicologicamente, um verdadeiro fracasso social. Numa entrevista de trabalho, chega a ceder ao assédio do gerente que, em seguida, a humilha. É nesse contexto de exclusão e baixa autoestima que ela decide quebrar as regras.
Ao fazer isso, confronta-se com o patriarcado local - talvez a grande discussão que o filme propõe -, já que tanto os participantes da cerimônia religiosa, quanto o padre e os policiais que são convocados para tratar do caso são homens. Reprimida, assustada e frágil no início, ao longo da trama Petúnia cresce e vai se fortalecendo ao não ceder à pressão para devolver a cruz. Apesar da tensão que a atitude de Petúnia provoca, sua via-crúcis é apresentada ao telespectador de forma simpática, leve e por vezes irônica.
Em Deus Existe e seu Nome é Petúnia, que saiu vencedor do prêmio do júri ecumênico da última edição do Festival de Berlim, o papel da imprensa também é questionado por meio da jornalista Slavica (Labina Mitevska) que cobre o caso. Há, no entanto, uma dubiedade. Não é possível identificar de que lado ela está. Não que haja necessidade para isso, pois, na teoria, o papel da imprensa é informar de forma objetiva e não tomar partido. Porém, Slavica adota discursos ambíguos. Em certos momentos, diz ser a favor de que uma mulher participe da busca da cruz no rio, ao mesmo tempo em que questiona os pais de Petúnia sobre a atitude da filha. Além disso, os atos desesperados para conseguir a história soam forçados.
O final não é exatamente convincente, mas não compromete toda a narrativa anterior.
Meses temáticos!
Confira nosso catálogo de críticas e curiosidades completo, distribuído em listas e meses temáticos.
0 comentários:
Postar um comentário