Por Ana Beatriz Marin
"Uma grande tragédia americana". Assim Clint Eastwood classifica a história real de Richard Jewell, o segurança que suspeitou de uma mochila deixada embaixo de um banco no Centennial Park, em Atlanta (EUA), durante a realização dos Jogos Olímpicos, em 1996. Não houve tempo de evacuar totalmente a área antes que o artefato explodisse: duas pessoas morreram (uma delas, o câmera de uma televisão turca que teve um ataque cardíaco ao correr para gravar imagens do atentado) e centenas ficaram feridas. Mas a atitude de Jewell evitou um mal maior e ele foi alçado ao posto de herói pelos colegas, pela polícia e pela imprensa. No filme O Caso Richard Jewell, que estreia nesta quinta-feira (2), o veterano diretor mostra como a vida do segurança vai do céu ao inferno após o acontecimento. De herói, em pouco tempo ele passará a principal suspeito.
Clint Eastwood é conhecido pelo apreço por homens comuns enfrentando o sistema (vide Sully: o Herói do Rio Hudson). O Caso Richard Jewell não é diferente. O protagonista, interpretado com maestria por Paul Walter Hauser, é um homem ingênuo, que acredita veementemente no papel da polícia como principal força motriz para a manutenção da lei e da ordem. Não à toa, sonha em entrar para a corporação. Aos 33 anos, mora com a mãe, coleciona armas (só as usa para caçar), é obeso e não tem maiores ambições. Intencionalmente ou não, em alguns momentos parece meio abobalhado.
O segurança Richard Jewell (Paul Walter Hauser) passa de herói a suspeito |
Tais características fazem a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde), do Atlanta Journal Constitution (AJC), comprar a ideia de que Jewell é o verdadeiro mentor do atentando a bomba. No roteiro de Billy Ray, baseado em notícias da época e em livro recente publicado sobre o caso, ela obtém, em troca de sexo com o agente do FBI à frente da investigação (John Hamm), a informação de que o guarda está sendo considerado o principal suspeito do crime.
Não é possível saber se de fato aconteceu. De todo modo, o Atlanta Journal Constitution não gostou nada de ver a repórter sendo apresentada dessa forma e enviou, junto à editora Cox, uma carta à Warner Bros, exigindo retratação. A família de Scruggs também se queixou. No filme, a jornalista, que morreu em 2001, aos 42 anos, após uma overdose de analgésicos, é retratada como uma mulher insensível, vaidosa e capaz de fazer qualquer coisa para garantir furos de reportagem.
Olivia Wilde interpreta a jornalista Kathy Scruggs |
O calvário de Richard Jewell durou cerca de três meses até que ele finalmente foi inocentado. Seis anos depois, o FBI descobriu o verdadeiro culpado: Eric Robert Rudolph. Jewell morreu em 2007, aos 44 anos.
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