Por Ana Beatriz Marin
A famosa Avenida Champs-Élysées aparece tomada por uma multidão em festa após a França conquistar a Copa do Mundo de 2018 na abertura de Os Miseráveis, do cineasta Ladj Ly, que estreia nesta quinta-feira (16). É o único momento do filme em que o famoso ponto turístico de Paris surge na tela. E é a única vez também que a cidade e seus habitantes mostram-se integrados. Diferenças sociais, raciais e econômicas simplesmente não existem. Até a sequência seguinte.
Os Miseráveis mostra a relação de um trio de policiais com os moradores – formados por adolescentes, imigrantes (ou filhos de imigrantes que, mesmo tendo nascido em solo europeu, não são vistos como franceses) e a Irmandade Muçulmana – de um bairro periférico da capital francesa. Logo no início da projeção, quando eles abordam três jovens num ponto de ônibus, fica clara a relação abusiva que mantêm com a comunidade. E como essa, mesmo reagindo (ou tentando), tem dificuldade de ser ouvida e fazer valer seus direitos.
A partir do roubo de um filhote de leão, a tensão já existente entre os policiais, os imigrantes africanos e a comunidade cigana instalada no local começa a crescer e, com ela, o ritmo do filme, que se torna mais e mais frenético. A forma arbitrária como eles prendem o culpado e a punição cruel que ele recebe acabam sendo registradas por um drone. E, quando os agentes perdem o controle da situação, o caos e a violência se instalam.
A história retratada no longa é baseada em uma prisão real que Ladj Ly presenciou durante a juventude, num subúrbio de Paris. O cineasta nasceu em Mali, em 1978, mas se mudou para a França e cresceu na localidade de Montfermeil, em Sena-San Dani, no distrito de Le Raincy – e onde Victor Hugo ambienta Os Miseráveis, o livro cujo nome Ly pega emprestado para seu filme. As injustiças e abusos perpetrados pelos policiais no filme tem um quê da realidade que ele conheceu. Em entrevista ao jornal espanhol El País, o cineasta afirmou não querer fazer um longa antipolicial. Porém, do jeito que a história é contada, fica claro de que lado ele está.
Após levar o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 2019, Os Miseráveis parte rumo ao Oscar. Na cerimônia, dia 9 de fevereiro, é o candidato da França na categoria Filme Internacional, junto a Parasita (Boon-Jo Hoo), Dor e Glória (Pedro Almodóvar), Corpus Christi (Jan Komasa) e Honeyland (de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, também indicado na categoria Documentário).
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