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Não é mais um filme sobre a máfia italiana

Nunca entendi muito bem por que O poderoso chefão ganhou esse título em português. É forte, é sonoro, remete à máfia, mas não menciona o que é essencial na saga dos Corleone: confiança e gratidão. Por isso, o original The godfather tem muito mais significado: a história dos mafiosos contada por Coppola não fala de disputa de poder, mas de uma estrutura familiar onde respeito e influência se confundem. Além disso, cria uma belíssima imagem, que é retomada ao final do filme, quando Michael batiza o sobrinho e se torna o novo padrinho, ao mesmo tempo em que assume o posto de Don da família. Sentiu a difererença?

A questão é tão importante que aparece logo na primeira sequência do filme: Vito Corleone não  se importa em perder a festa de casamento da filha para ouvir os problemas de um conhecido que vem lhe pedir um favor, mas se ofende quando ele tenta lhe oferecer dinheiro. Bastava que ele falasse em nome da amizade, que recorresse ao padrinho, que o pedido seria atentido. E tudo corre assim, como num acordo de negócios, mesmo que o favor implique o uso de força bruta, e talvez algumas mortes no fim das contas.

Afinal, falar de máfia mostrando tiroteios e violência gratuita é fácil. Difícil é transformá-los quase em cavalheiros. Entre as famílias sicilianas, tudo é tratado com tamanha civilidade que até assusta. Ou você marcaria uma reunião com o assassino do seu filho para marcar uma trégua? Mas aqui negócios e vida pessoal se misturam o tempo todo. Embora os Corleone tentem não falar sobre o assunto à mesa ou abram mão de uma vingança para evitar uma guerra, não dá para separar as duas coisas totalmente. É por isso que Don Corleone, uns segundos após receber a notícia da morte do filho Sonny, em vez de mergulhar no luto, já dá instruções para o seu consigliere agir. É por isso que o jovem Michael, que é contra os negócios da família por princípios, acaba se envolvendo e assumindo a responsabilidade que era de seu pai assim que sente o risco real de perdê-lo.

E é por isso que ficamos tão fascinados com essa história que passa longe demais do óbvio para ser só mais um filme sobre a máfia. Coppola foi extremamente feliz ao reunir um roteiro de primeira como esse e um elenco só de feras, em atuações inspiradíssimas, sem exceções. É um daqueles casos em que tudo conspira  a favor. Mas a sorte é nossa.

4 comentários:

Fabiane Bastos disse...

Essa eu sei responder, o problema vem desde a tradução do livro. Olha a explicação de Rubens E. Filho, em uma crítica do e-pipoca:

"Mas um idiota de um editor nacional resolveu chamar o livro de O Chefão aqui no Brasil. Outro ainda mais esperto roubou o nome e chamou de Chefão uma outra fita francesa. Por isso que tudo acabou virando ''O Poderoso Chefão'' quando, pela própria seqüência final, só faz sentido quando o herói é realmente padrinho num batismo e em sua posição na Máfia."

Se quiser ler o resto do texto vá ao e-pipoca

Daniel Caetano disse...

Em geral eu abomino as traduções de nomes de filmes. Meu último problema foi com o "Up in the Air", que virou "Amor sem Escalas"...
De qualquer forma, você colocou de uma forma muito interessante o tema; pela minha experiência com a minha família (italiana), o filme realmente me parece mais sobre família do que sobre outros assuntos. A máfia é, por excelência, um negócio de família (uma família que transcende os laços de sangue, inclusive).
Muitos bons esses reviews. Incisivos, direto ao ponto, e longe do "senso comum" dos reviews que normalmente são encontrados por aí.
Parabéns a todas vocês! :)

Giselle de Almeida disse...

Fabi, valeu pela explicação, só que o título do livro também é ruim, né? Pena que isso aconteça direto por aqui...

Daniel, também achei a tradução para "Amor sem escalas" ruim... Ficou superbrega e esconde o que é o filme de verdade. Ainda bem que você está gostando do blog. Como só falamos de clássicos aqui, tentamos fugir do que já foi dito milhares de vezes por gente que entende mais de cinema que a gente. Mas cinéfilos sempre gostam de dar sua opinião, né? ;)

Aliás, o dia que quiser escrever aqui, já está convidado!

Daniel Caetano disse...

(rs) Opa, cool! Fico lisonjeado, de Verdade.
Quando eu me sentir em "sincronia" com o filme que vocês viram, faço meus apontamentos. :)

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