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"Well... I guess we are not in Kansas anymore, Toto"


E eu que ensava que só "Alice no País das Maravilhas" era uma viagem... Aqui não tem nenhum coelho branco pra seguir, mas tem um caminho de tijolos amarelos; não tem flores metidas a besta, mas tem Munchikins de cantorias rimadas e vozinhas agudas e irritantes; não tem cogumelo que faz crescer ou encolher, mas tem campo de papoulas soníferas; não tem Naná, mas tem Totó. E, claro, como toda obra feita para crianças, tem uma bruxa má. Bem, nesse caso, são duas - e irmãs. E ainda tem uma bruxa boa.

Como a maioria dos filmes da lista, eu não sabia muita coisa sobre "O mágico de Oz", além de que ele era infatil, clássico e referência para outras obras. Não sabia nem que era musical, apesar de viver cantarolando a famosíssima "Over the Rainbow". Para mim, era só trilha sonora, realmente nunca havia associado uma coisa com a outra. Também nunca soube porque Dorothy tinha deixado a fazenda. Foi surpresa pra mim saber que ela fugiu para proteger o cachorro, por medo de perdê-lo. E mais surpresa ainda porque ela desiste de fugir e resolve voltar pra casa, mas é pega por um furacão. Daí pra lá, é pura fantasia, imaginação e diversão.

O filme tem um "quê" de nonsense. Das coisas bizarras de Oz, tenho que destacar o Leão Covarde. Ele tentando rugir me fez gargalhar no sofá... aquilo nem miado era! E o lacinho vermelho que colocaram em sua juba na Cidade de Esmeralda denuncia muita coisa. Mas a gota d'água é ele se atirando pela janela quando o grande mágico manda eles saírem da sala. Essa foi a única ponta solta do filme todo, porque ninguém conta o que acontece com ele. Outra bizarrice é a Bruxa Boa. O que ela toma no café-da-manhã? Ou vai me dizer que ela tava sóbria quando recebeu Dorothy na cidade dos Munchikins?! E que história é essa de bruxa boa em vez de fada madrinha? Será que era assim que elas eram retradas antigamente ou fadas madrinhas só aparecem para princesas encantadas? Aliás, as bruxas de Oz são bem estranhas. A Bruxa Má do Oeste mal soube da morte da irmã e já veio roubar os sapatinhos vermelhos mágicos. E quando ela captura Dorothy para, enfim, retirar seus sapatinhos - e não consegue - ela diz de forma muito natural que, lógico, ela teria que "matá-la de uma forma delicada" para que os sapatos não perdessem seu poder. Então ser esmagada por uma casa, como aconteceu com a Bruxa Má do Leste, é uma forma delicada de morrer?


A Bruxa Boa (e meio doida) do Norte e Dorothy


Fora esses pequenos detalhes hilários, o filme é delicioso. A vida no Kansas é retratada em sépia (um preto-e-branco empoeirado?) contrasta com a Oz, o "lugar além do arco-íris, onde todos os sonhos que você ousou sonhar se tornam realidade" colorida, mágica, com criaturas simpáticas e amáveis. As personagens são cativantes, tanto no Kansas quanto em Oz. E todas as interpretações são especiais, no tom exato de infantilidade e lição de moral camuflada - perfeito para crianças e sem ser enfadonho para os adultos.

Adorei ter a experiência de Oz agora, depois de adulta. Percebi muito mais coisas e me diverti muito mais do que se tivesse assistido ao filme quando pequena. Acho legal ver que todos os filmes pra crianças tem, no fundo, algum tipo de moral - principalemente se você pensar que elas absorvem absolutamente tudo o que está à sua volta e na maioria das vezes sequer se dão conta disso. Vai ver é por isso que as crianças de hoje estão tão espertas, com o excesso de informação a que elas tem acesso... E aqui, a mensagem é bem clara: não há nenhum lugar melhor no mundo do que a nossa casa. Não que seja necessariamente um local fixo, mas "sentir-se em casa". Por mais interessante que seja o mundo, sempre vai bater aquela saudade. É tão forte que é o encantamento necessário para ela voltar pra casa. "Bata 3 vezes os calcanhares e repita: 'não há nenhum lugar como nossa casa', 'não há nenhum lugar como nossa casa'..." Simples e direto, não? Acho legal o fato de também retratarem a aventura de Dorothy sem haver somente maldade no caminho. A amizade do Espantalho, do Homem-de-Lata e do Leão Covarde afastam o mal durante a caminhada. Amizades inesperadas e sinceras realmente tem esse poder nas nossas vidas. Talvez Oz não esteja além do arco-íris...

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