Filme difícil de acompanhar, hein?! Principalmente por causa dos gritos histéricos, muitos decibéis acima do nível saudável, das mulheres em cena. Que, aliás, me pareceu ser uma visão do diretor: mulheres são histéricas e melodramáticas e compreendem as necessidades masculinas (leia-se suportam passivamente uma "escapadinha" do marido - são até capazes de falar mal do marido/amante e rirem juntas de seus defeitos, e depois saírem dançando). Mas os homens não perdoam a ofensa e perdem a compostura brigando por uma mulher.
Coisa difícil de ver também são as cenas de caça. Me chamem do que quiserem, mas eu prefiro o politicamente correto dos filmes de hoje em dia a ver coelhos e faisões serem mortos daquele jeito. Pior é pensar que até hoje são caçados por esporte... Mas isso são outros quinhentos. O que interessa aqui é o filme.
Dizem que esse filme é sobre a sociedade e como ela se comporta, como se fosse uma amostra num microscópio. Pois se é assim, eu digo: ninguém é santo. Todo mundo tem culpa no cartório e, pior, nem se importa em tentar disfarçar. Até um assassinato acontece por causa de ciúme e orgulho, mas as testemmunhas são convidadas a entrar para o castelo como se fossem tomar um chá relaxante e, depois de um papo aprazível, irem deitar-se como se não houvesse um cadáver no quintal.
Outra visão interessante é a hierarquia, mesmo entre os empregados. Quem serve ao dono da casa é mais importante e respeitado pelo colegas; o caçador clandestino que é agraciado com um emprego fica responsável por limpar as botas de todos da casa. Outra coisa que não pode passar despercebida é a semelhança de roteiros entre A regra do jogo e Assassinato em Gosford Park. É até risível pensar que este seria indicado ao Oscar de melhor roteiro original. As semelhanças são muitas.
Confesso que não estava com a minha energia nas alturas ao ver esse filme(dormi duas vezes, mas porque estava cansada e não porque achei o filme chato), mas gostei do que vi. A honestidade e simplicidade geniais em que as pessoas são mostradas em situações ao mesmo tempo cotidianas e absurdas, e a forma blasé de encarar fatos cruéis (como morte, traição, ódio, vingança, inveja, amor não-correspondido) são coisa de mestre mesmo. Nas mãos de outro diretor, teria sido enfadonho ou muito teatral. Os figurinos são bárbaros (nem podia ser diferente), a fotografia também é excelente e muitas cenas geniais (as histórias se desenrolando enquanto as personagens assistem à apresentação de teatro, a luz focando o que você precisa ver). Não sei bem se entendi qual é a regra do jogo, mas acho que é "apenas finja que está tudo bem, então tudo estará bem". Mais do que regras, acho que esse filme explora os vícios que adquirimos com o viver em sociedade, no esforço de fazer tudo parecer ser ou estar perfeito.
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