Duas coisas me chamaram a atenção em Sindicato de ladrões: a atuação de Karl Malden como o engajado padre Barry e o fato de o personagem de Marlon Brando crescer tanto diante de nossos olhos em tão pouco tempo. Juro que não sei se isso é um mérito ou um defeito do roteiro, já que, no início do filme, Terry Malloy tem uma participação tão discreta que ameaçou me decepcionar. Mas, a partir do momento em que ele se encanta por Edie (Eva Marie Saint) e começa a tomar conta de sua própria vida, passa a assumir também o posto que lhe pertencia desde o princípio: o de protagonista. Se a metáfora é intencional eu não sei, mas dá uma boa reflexão, não?
Apesar de falar de máfia e tudo mais relacionado ao tema (poder obtido através de coerção, ameaças e violência), o longa de Elia Kazan se torna cada vez mais interessante à medida que invereda pelos conflitos que só nós, seres humanos, somos capazes de criar. E não são poucos os dramas que vão surgindo pelo caminho: um jovem culpado pela morte de um inocente, uma irmã determinada a se meter com gente perigosa para descobrir a verdade, um mafioso sofrendo com a possibilidade de o irmão ser morto por falar demais.
Aliás, a cena entre Charley (Rod Steiger) e Terry no carro é emblemática e mostra perfeitamente o dilema do bandido, que deve manter sua palavra, e tenta, com muito custo, evitar uma tragédia em família. Apesar de todos os esforços, todo mundo sabe que, quando a situação chega a esse ponto, não há muita chance para um final feliz. E é a partir daí que o filme cresce absurdamente, com ótimos momentos e atuações impecáveis. E o personagem de Brando só faz se tornar mais interessante. Dominando o ódio, preferindo a justiça à vingança, adquirindo consciência sobre si mesmo e, enfim, tomando coragem. A sequência final, feita para o ator brilhar, mostra um novo Terry, bem diferente daquele lá do início, covarde e acomodado. Antes tarde do que nunca, não é?
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Ah, esqueci de falar a terceira coisa que mais me chamou atenção no filme: as sobrancelhas feitas de Marlon Brando. Como eu preferiria ter ficado sem elas...
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