Três coisas precisam ser ditas, antes de eu começar a falar do filme. Primeira: que fique registrado que este é o primeiro filme de Alain Delon que eu vejo. Já me tornei fã. Segunda: eu não sabia que o filme tinha 3 horas de duração. Mais um filme italiano longo demais. Dava pra enxugar aí pelo menos meia hora de filme. Mas, ainda assim, adorei. Por fim, ao ver a personagem de Katina Paxinou, a mamma Rosaria Parondi, não consegui pensar em outra coisa: toda mãe no mundo tem um quê de mamma italiana. Fato.
Rocco e seus irmãos (Rocco i suoi fratelli, 1960) conta a história de uma família, viúva e cinco filhos, que saem do interior pobre para a cidade grande tentar ganhar a vida. O primeiro a ir é o mais velho, Vince (Spiros Focás), que já estava conseguindo algum sucesso. Na festa de celebração de seu noivado, porém, chegam sua mãe e seus quatro irmãos para viverem com ele. E as coisas começam a ir mal. Ele poderia sustentar a si próprio e à esposa, mas como sustentar toda a família? Ele já havia desistido do boxe porque não era a sua paixão, apesar de seu talento e de receber relativamente bem por cada luta. Então ele resolve à moda italiana: em família. Fica com a mãe e os irmãos em uma casa de aluguel barato e espera pelo despejo (assim poderiam viver em algum outro lugar fornecido pelo governo, sem ter que gastar com aluguel, água ou luz), arruma empregos temporários para si e seus irmãos.
A essa altura eu já me perguntava: se o personagem principal é o Vince, porque o filme se chama Rocco e seus irmãos? Então começa a narrativa da vida de Rocco, e percebe-se porque ele é o principal. Foi através de sua ida para o exército que sua família teve um pouco mais de conforto, através do seu sucesso como boxeador que a família se estabilizou, através de sua bondade e honestidade que o irmão problemático (Simone) não foi preso por roubo e teve sua carreira encerrada precocemente, de sua abdicação e devoção à família que ele implorou para o amor de sua vida (a prostituta Nadia, interpretada brilhantemente por Annie Girardot) que o abandonasse e voltasse para o seu irmão. É um personagem muito forte, à beira do surreal. Ninguém consegue ser tão bondoso quanto Rocco. Ele é a alma do filme, o cara que mantém os pés no chão, que sonha em voltar para casa com a família, que faz qualquer sacrifício pelo bem da mãe e dos irmãos - e por isso mesmo não tem medo de sonhar com um futuro melhor. Um cara consciente dos sofrimentos da vida, mas que não deixa de ter esperanças, que é bom, que tem um coração puro e generoso, que acredita no amor.
Rocco Parondi (Alain Delon) é um dos personagens mais tocantes que eu já tive o prazer de ver
Esse, provavelmente, é uma das maiores surpresas da lista para mim. Não costumo gostar de filmes italianos, acho as narrativas lentas demais (sem necessidade); em cenas de muitas pessoas falando, parece que estão sempre brigando; e as interpretações são sempre um pouco exageradas demais. Fora que eu já tenho um preconceito com o sotaque italiano por causa das novelas que insistem em carregar os diálogos de palavras e expressões no idioma, o que acaba por deixá-los chatérrimos e irritantes. Mas Rocco é mais do que um filme italiano. É universal, atemporal. Interpretações na medida, com destaque para as mulheres em cena (a mãe exagerada, a prostituta desgraçada, a esposa durona) e para Renato Salvatori, que fez um Simone perfeito; cenas memoráveis (a briga dos irmãos quando Rocco e Nadia são pegos juntos, quando Simone conta a Rocco que a matou e a cena final, de Ciro e Lucca conversando sobre o futuro, são as minhas preferidas); personagens cativantes e, o mais impressionante, tão verossímeis que poderiam muito bem ter sido reais.
Quem não tem uma mãe como a signora Parondi, tão protetora e orgulhosa de sua prole? Quem não sonha com uma vida confortável e feliz para sua família, como Vince? Que filho não gostaria de provara para a mãe e os irmãos que poderia ser alguém na vida, como Simone fez (apesar das besteiras que cometeu)? Quem, como Ciro, não ama seus irmãos a ponto de, achar que mesmo fazendo o que parecia errado era o melhor para seu irmão? Ou age como o próprio Rocco, sempre dando um jeito de consertar as besteiras dos outros, sempre pensando na família em primeiro lugar? Fica a lição de esperança e amor, e Rocco é mais um personagem que entra pra minha lista de favoritos.
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