Veludo azul, partimos da ensolarada e aparentemente perfeita cidadezinha de Lamberton até o lugar mais bizarro e obscuro que se possa imaginar: a mente humana. Movidos por uma curiosidade semelhante à do protagonista Jeffrey (Kyle Mac Lachlan, bem convincente), vamos acompanhando o desenrolar da trama para tentar montar o quebra-cabeças.
Ok, talvez eu não seja mórbida ao ponto de recolher uma orelha humana encontrada ao acaso por aí. Muito provavelmente eu não invadiria o apartamento alheio só para entender melhor um possível crime. E certamente eu me mandaria na hora ao dar de cara com um cara megaultraperturbado como Frank Booth (Denis Hopper). Eu devo ser covarde mesmo, mas achei bem legal o clima voyeurista à la Janela indiscreta. É aquela coisa, diante de uma vidinha pacata e monótona, todo mundo quer ser testemunha de algo fora do comum. Não é sempre que se tem essa chance.
Mas se o tal quebra-cabeças pode soar, por muitas vezes, inverossímil, basta uma rápida lida nas páginas policias para a gente se dar conta de que o mundo é mesmo muito estranho. E a estupenda atuação de Hopper só faz comprovar isso. É de cair o queixo. O que só me dá mais tristeza pela afetação e canastrice de Isabella Rosselini como Dorothy Vallens. Tudo bem que a personagem não batia muito bem, mas não precisava ser tão clichê. A cena dela cantando a música-tema, "Blue velvet", é de chorar. Aliás, prezado Lynch, precisava repetir a canção tantas vezes durante o filme? Really? Criei antipatia, foi mal.
Fora esse grande abismo entre as duas realidades (reforçado no final do filme, uma bela retomada da atmosfera inicial), o restante da história se desenrola como uma trama policial convencional: uma investigação com um quê de corrupção, lei do silêncio, fica na sua que é melhor pra você. Ah, e o triângulo amoroso entre Dorothy, Jeffrey e Sandy (Laura Dern, tão sem sal que pode causar queda de pressão em alguns)? Será que podemos mesmo chamar de triângulo amoroso??? Acho que não. Por mais bizarro que seja, Frank Booth é mais interessante.
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