Diz aí: quantos filmes de solteironas doidas para subir ao altar você já viu na vida? Vários, né? Que bom que a semelhança de todos eles com O casamento de Muriel fica só na aparência. Na verdade, a personagem de Toni Collette quer mesmo é mudar de vida. Desajustada, sem amigos, considerada uma fracassada pelo próprio pai, sem autoestima (nem bom gosto, é verdade), Muriel acha que todos os seus problemas vão desaparecer assim que mudasse de estado civil. Inocente demais? Talvez. Mas atire o primeiro buquê quem não desejou, uma vez na vida, que as coisas melhorassem num passe de mágica. Pois é.
Parece mesmo que ela vive num mundo à parte, onde qualquer tristeza pode ser aliviada com as músicas do ABBA. Onde não há problema roubar o dinheiro da família e simplesmente ir para Sydney começar uma vida nova. Onde criar um noivo fictício para a melhor amiga ou uma mãe em coma para comover a vendedora é natural. Onde experimentar todos os vestidos de noiva da cidade a deixassem mais perto de um casamento de verdade. Para Muriel (ou Mariel, como ela prefere), mentir não é feio nem errado, é questão de sobrevivência. Apenas nesse mundo de fantasia ela é capaz de se olhar no espelho. E só mesmo a incrível Toni Collette para convencer a gente disso.
O filme de P.J. Hogan me surpreendeu. Último trabalho do diretor ainda na Austrália antes de começar sua fase americana com o sucesso O casamento do meu melhor amigo (1997), o longa mantém aquele clima indie que não cabe em Hollywood e dosa bem o humor com o drama das situações por que a protagonista passa. Mesmo melancólico em alguns momentos, é impossível não sorrir diante de tudo isso e torcer por Muriel conquistar o que tanto deseja.
Seja dando o troco nas amigas interesseiras, tendo um pouco de diversão com o cara que conheceu na locadora ou mesmo no dia do teu tão sonhado casamento, mais falso que uma nota de R$ 3. Quem se importa? Mesmo que por algumas horas, ela conseguiu (vide a cara de besta da noiva no altar, numa das melhores sequências do filme). Já a tentativa de uma solução romântica logo depois disso foi a única coisa que me incomodou. Ficou estranho.
Mas a grande mudança vem mesmo depois de tudo isso, quando ela se dá conta de que ser uma nova pessoa não acontece do dia pra noite. Ela ainda tem todos os problemas do mundo, a família dela continua sendo um bando de imprestáveis, as interesseiras continuam sendo falsas com ela e, bem, ainda falta um marido. Mas agora ela tem Rhonda (Rachel Griffiths, gente, de "Brothers and sisters"!), uma amiga de verdade ao seu lado, na alegria e na tristeza, e o mais importante: confiança. Quem duvida que Muriel chega lá? Eu não.
P.S.: Eu odeio ABBA. Mas gostei do filme mesmo assim.
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