Não espere grandes números musicais de Um dia em Nova Iorque. O filme, o primeiro dirigido por Gene Kelly (junto com Stanley Doney), tem muita cantoria, com letras nem tão inspiradas assim, e poucos realmente bons momentos de dança. Alternando bastante entre altos e baixos, no entanto, o resultado é divertido. Justamente porque, quando envereda pela comédia, o longa funciona melhor.
Os marinheiros Gabey (Gene Kelly), Chip (Frank Sinatra) e Ozzie (Jules Munshin) têm apenas 24 horas na Big Apple e querem aproveitar até o último minuto: ver todos os pontos turísticos possíveis e, por que não?, encontrar uma companhia especial. As novaiorquinas são tão bonitas... Mas Gabe nem imagina que Ivy Smith (Vera-Ellen), a Miss Catraca que ele julga ser uma celebridade, vem da mesma cidadezinha que ele. Parece bobo que um homem passe seu único dia em terra atrás de alguém que ele nem conhece quando podia ter qualquer garota à sua disposição. E é. Ah, os anos 40! Amor à primeira vista num vagão de trem lotado parece até possível.
Mas vocês conseguem imaginar que é essa busca desenfreada que move todo o filme? O tempo todo não pude deixar de pensar que essa trama era frágil demais para sustentar os 98 minutos de projeção. Realmente, a sensação é de que, até o encontro dos protagonistas, tudo não passava de uma grande introdução. Mas, acreditem, o casal nem empolga tanto assim. O grande mérito do filme é mesmo a ingenuidade de Gabe, que acredita até o último minuto que a amada é alguém importante. É divertidíssimo quando Brunhilde (Betty Garett) e Claire (Ann Miller) resolvem alimentar a fantasia do marinheiro, subornando garçons. Quase como os pais que se vestem de Papai Noel para não decepcionarem os filhos. Muito bonitinho. Mas o melhor mesmo ainda estava por vir, já bem próximo do final, quando os três marmanjos se vestem de dançarinas para fugir da polícia. E o discurso das garotas, capaz de amolecer o mais insensível dos corações? Ainda mais sensacional.
E se todas as personagens femininas foram criadas com um toque de humor - o que nem sempre funciona, vide o caso da taxista, que parece forçado a maior parte do tempo, em parte graças ao texto, em parte graças à interpretação da atriz -, não podemos esquecer de uma coadjuvante em especial: Alice Pearce, a intérprete da impagável Lucy Schmeeler. Em pouquíssimas aparições, ela foi a responsável pelos momentos mais divertidos do filme. Adorei essa cena, em que todos dançam juntos e parecem realmente estar se divertindo ao gravá-la. Afinal, musical não é para ser divertido?
Já na parte musical, o longa fica devendo letras mais elaboradas e coreografias de encher os olhos, como sabemos que Gene Kelly executa como ninguém. À parte a sequência do Museu de Antropologia, faltou charme e graça aos números musicais. E isso ficava mais evidente ainda quando Vera-Ellen era a única parceira de Kelly. Ela até se saiu bem na divertida sequência em que Gabe imagina Ivy como uma atleta, mas não se destaca mais. Aliás, toda aquela encenação da "peça" "Um dia em Nova Iorque" era realmente necessária? Fiquei na dúvida. Soou para mim como uma grande repetição do que havíamos visto até então, só que sem diálogos. Talvez intercalar essas cenas na narrativa tivesse um efeito melhor. Porque, vocês sabem, sutileza também é fundamental.
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