Eu juro que não tinha me dado conta de que a história de Saruman não tinha tido um desfecho decente até assistir agora a O retorno do rei em sua versão estendida. Derrotado, depois de ser encurralado, confrontado e se recusar a se entregar ou mesmo se arrepender de todo o mal que causou, o mago branco finalmente encontra seu inevitável destino: a morte. Foi uma sequência meio rápida, e talvez até um pouco deslocada, logo no início da projeção (soube que a história se resolve de outra maneira no livro), mas, de qualquer forma, serviu como encerramento de um ciclo. Esse exemplo é perfeito para ilustrar a importância das cenas adicionais neste capítulo final da trilogia O senhor dos anéis. Mais do que extras caça-níqueis a que muitas produções recorrem, cada minuto incluído nesta nova edição acrescenta mais tons e nuances aos personagens e amarram melhor certas partes da trama.
O único momento em que senti que isso não funcionou muito bem foi a aproximação entre Éowyn e Faramir. Dois ótimos personagens, feridos fisica e emocionalmente pela batalha, que terminam juntos sem uma explicação um pouco maior. Em determinado momento, uma rápida troca de olhares que dá a entender que dali surgiria um romance soa como se o irmão de Boromir fosse apenas um prêmio de consolação para a sobrinha de Théoden, que já há algum tempo nutria uma forte paixão por Aragorn. Um romance como esse precisa de tempo para ser desenvolvido, não tem muito jeito de contar uma história de amor em poucos minutos. Mas diante de tanta coisa nova que as cenas extras nos trazem, é um escorregão mínimo.
A caminhada de Frodo e Sam até Mordor - até então ofuscada pelo fascinante Gollum, que consegue finalmente colocar uma amigos contra o outro e os leva até a temível Laracna - ganha mais espaço, como na ótima sequência em que os hobbits se disfarçam de orcs numa marcha quase suicida. Enquanto a situação deles ficava cada vez mais tensa, a sociedade do Anel também estava disposta a ir até a morte para ajudar os pequeninos a cumprirem sua missão: "Por Frodo!". De arrepiar.
E como se As duas torres não fosse grandioso o suficiente, o último filme da saga é ainda mais épico. Além de trazer momentos inesquecíveis, como a origem de Gollum, uma criatura totalmente destruída pelo anel, o longa caminha para o embate definitivo entre o bem e o mal em sequências não menos que épicas. Bonito demais ver Gandalf assumindo a liderança no campo de batalha quando ninguém mais estava disponível. É dele que parte a ordem para Pippin acender a pira de Minas Tirith, convocando os homens de bem a se juntar a eles. É ele quem comanda os poucos homens disponíveis, que temiam mais por suas vidas que pela tomada da cidade. É ele a única pessoa sensata no controle, já que o detestável Derethon, cada vez mais tomado pela própria ganância e pela própria loucura, manda o filho para a morte (numa das sequências mais lindas, poéticas e melancólicas da saga, embalada pelo canto de Pippin).
Enquanto isso, Aragorn finalmente desiste de se esconder no papel de um simples guardião e assume o papel que lhe era destinado por herança: Rei de Gondor. De posse da espada reconstruída, ele reconquista sua autoridade e é capaz de reunir um exército de espíritos rebeldes. Sempre ficou claro que mais do que uma figura importante na batalha, ele representava a esperança de dias melhores na Terra Média. E isso é representado com uma beleza ímpar durante sua coroação, ainda mais emocionante quando ele se curva para os verdadeiros heróis da história: os pequenos hobbits, corajosos a ponto de entrarem numa guerra que aparentemente não era sua e bondosos o suficiente para perceber que não podiam dar as costas a seus companheiros.
E esse seria um lindo final para a trilogia se não fosse a insistência de se contar minuciosamente o que aconteceu com cada um daqueles personagens depois que a batalha definitiva termina. A cada fade out, a sensação era de que chegaríamos ao tão esperado fim, mas sempre surge uma nova cena com informações que, a essa altura, ninguém estava tão interessado em saber. Depois de tantas aventuras emocionantes, nós nos daríamos satisfeitos em saber que tudo termina bem. Mas, embora cansativo, esse final não tira o brilho desse projeto incrível, capitaneado por Peter Jackson, que nos levou a uma viagem inesquecível pelas terras distantes e mágicas idealizadas por J.R.R. Tolkien.
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