O aviso na capa de Cães de aluguel anuncia: "Este DVD contém cenas de violência, assassinato, tortura, mutilação e linguaguem depreciativa". Tudo verdade. Mas o comunicado deveria explicar também que "contém um roteiro instigante, um elenco inspirado, um habilidoso diretor iniciante e a gênese de uma filmografia que conquistou seu lugar cativo na História do cinema".
Porque não é qualquer cineasta que estreia com um clássico e que impõe sua marca com tanto estilo: pop desde a primeira cena (a antológica discussão sobre os significados implícitos na música "Like a virgin", de Madonna), cool com sua narrativa não-linear, seus bandidos de terno e gravata e apelidos sóbrios, e tenso, muito tenso, do início ao fim. Tudo isso sem mostrar uma única cena do assalto em torno do qual gira toda a trama, nem toda aquela lenga-lenga do planejamento mais que elaborado de um crime, baseado na especialidade de cada integrante do grupo, que você já deve ter visto em 347 exemplares do gênero.
E é essa a jogada de mestre de Tarantino: sem nos dar as informações básicas necessárias para avaliarmos a situação, somos obrigados a deduzir quem está falando a verdade e quem pode estar mentindo. O que deu errado? Houve mesmo um traidor? Se houve, quem seria? O grande mérito do roteiro é justamente desfiar a trama aos pouquinhos, deixando o espectador curioso por saber o que realmente aconteceu durante a operação e por que ela se tornou um fracasso. E aqui os flashbacks certeiros que entremeiam o longa e que se tornariam uma marca do diretor não são só estilo. Ao contrário, eles têm dupla função: esclarecer, em conta-gotas, trechos do passado dos personagens e suas motivações para estar ali, além de prolongar ao máximo a tensão que não para de crescer naquele armazém.
Mr. White (Harvey Keitel) está uma pilha de nervos porque arriscou a vida e viu um companheiro, Mr. Orange (Tim Roth), ser baleado e estar à beira da morte. Mr. Pink (Steve Buscemi), não menos assustado, mas ainda assim mais racional, analisa os fatos e levanta a suspeita de uma armadilha. Já Mr. Blonde (Michael Madsen), acusado pelos companheiros de ter enlouquecido durante a ação, ressurge tomando um refrigerante com uma tranquilidade que perturba. As coisas saíram de controle, as incertezas são muitas, a polícia pode chegar a qualquer momento, a morte ou a prisão são opções bem prováveis. É inevitável sentir que, a qualquer minuto, um dos assaltantes perderá a cabeça e fará uma besteira. E a impecável atuação de todo o elenco, que merece ainda um destaque para Chris Penn, deixa tudo ainda mais eletrizante.
E é essa a jogada de mestre de Tarantino: sem nos dar as informações básicas necessárias para avaliarmos a situação, somos obrigados a deduzir quem está falando a verdade e quem pode estar mentindo. O que deu errado? Houve mesmo um traidor? Se houve, quem seria? O grande mérito do roteiro é justamente desfiar a trama aos pouquinhos, deixando o espectador curioso por saber o que realmente aconteceu durante a operação e por que ela se tornou um fracasso. E aqui os flashbacks certeiros que entremeiam o longa e que se tornariam uma marca do diretor não são só estilo. Ao contrário, eles têm dupla função: esclarecer, em conta-gotas, trechos do passado dos personagens e suas motivações para estar ali, além de prolongar ao máximo a tensão que não para de crescer naquele armazém.
Mr. White (Harvey Keitel) está uma pilha de nervos porque arriscou a vida e viu um companheiro, Mr. Orange (Tim Roth), ser baleado e estar à beira da morte. Mr. Pink (Steve Buscemi), não menos assustado, mas ainda assim mais racional, analisa os fatos e levanta a suspeita de uma armadilha. Já Mr. Blonde (Michael Madsen), acusado pelos companheiros de ter enlouquecido durante a ação, ressurge tomando um refrigerante com uma tranquilidade que perturba. As coisas saíram de controle, as incertezas são muitas, a polícia pode chegar a qualquer momento, a morte ou a prisão são opções bem prováveis. É inevitável sentir que, a qualquer minuto, um dos assaltantes perderá a cabeça e fará uma besteira. E a impecável atuação de todo o elenco, que merece ainda um destaque para Chris Penn, deixa tudo ainda mais eletrizante.
Muitas sequências do filme, em especial as do armazém, tem uma estrutura teatral, com seu cenário único, atores bem marcados e longos diálogos. E isso não é um problema, já que o texto é um grande achado, recheado de palavrões e de piadas politicamente incorretas. Onde mais você ouviria diálogos como: "Tem certeza de que não atirou em pessoas de verdade?" "Não, só em policiais". Ou então: "Vocês estão parecendo dois negros. Eles que vivem dizendo que vão se matar". Engraçado quando deveria ser trágico, exatamente como todo o filme. Pensando melhor, o aviso na capa do DVD seria muito mais conciso (e autoexplicativo): "Fucking brilliant".
0 comentários:
Postar um comentário