Foi apenas pesquisando sobre o filme desta semana que descobri que Cartas de Iwo Jima é metade de um projeto maior. Clint Eastwood resolveu contar a história de uma das batalhas mais sangrentas da 2ª Guerra Mundial, pelos pontos de vista dos dois lados da batalha. A conquista da honra mostra o combate pela conquista da ilha japonesa de Iwo Jima pelo lado dos americanos, vencedores. Enquanto este apresenta a visão dos japoneses. Apenas por isso a produção já tem méritos.
Entretanto, Eastwood vai além. Humaniza o inimigo - o "lado errado da batalha" tem bons homens que apenas cumprem o seu dever, tal qual os combatentes do "lado certo da luta". Assim, acompanhamos a tensa e longa preparação para a batalha, de uma tropa em número, arsenal, comida e condições físicas (já que sofriam de disenteria por causa da água ruim) inferiores às dos adversários. Através de flashbacks, dos momentos de desesperança nos escuros túneis, conhecemos seus medos e a vida que deixaram para trás. Vida de gente como a gente.
Quando percebe que não haverá reforços ou condições para suas tropas, o General Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe), toma as devidas providências para prolongar ao máximo o confronto aumentando o tempo de preparo para as outras frentes de batalha. Cava túneis no centro da ilha ao invés de trincheiras na praia, esconde os soldados em bunkers, mas sabe que a derrota é inevitável. Uma tentativa de resistência que contrasta com a (para nós) honra suicida dos japoneses. O ato de preferir morrer a fugir, desertar ou se render deixa a impressão que a honra custou um considerável número de soldados para as tropas japonesas. Impossível não se questionar: teria feito diferença?
As atitudes do general nem sempre são compreendidas por seus oficiais, gerando insubordinação e disputas internas, que apenas aumentam a tensão nos escuros túneis. E por falar em escuro, o filme apresenta uma paleta desaturada que beira o preto e branco em vários momentos. Não há cor em uma guerra. Ao mesmo tempo, os americanos são apresentados apenas nas sombras, no escuro, ao longe, o inimigo difícil de identificar, sem rosto, sem nome.
Até o momento em que um americano é capturado, e um dos oficiais lê uma carta que este carregava para os soldados japoneses. Não era uma estatégia, mas uma carta da mãe. Piegas (e muito), mas tem sua função, lembrar que nenhum deles é realmente o inimigo. Ambos os exércitos lutam uma batalha que não é de nenhum daqueles homens. Uma guerra iniciada por seus governantes, na qual só exercem o papel que aquela caótica sociedade exige.
Longos momentos de espera, batalhas e ações repetitivas tornam o filme cansativo. Mas nem de longe é um erro, já que ajuda a entender bem o sentimento de estafa mental e física dos personagens, que só aumenta ao presenciar a violência das batalhas.
Difícil não torcer pelo lado "nazista" da batalha, por aqueles homens que passamos a conhecer. Quem irá dizer que não mereciam a vitória? A causa podia até não merecer, mas seus defensores mereciam melhores chances. Um ponto de vista raro e novo para uma guerra que o cinema já cansou de revisitar.
E pensar que, na faculdade, aprendemos que a história é contada pelos vencedores!
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