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Posso levar pra casa?


Quando eu penso que o mês Chaplin não tem mais como me surpreender, lá vem O garoto para mexer de vez com meu coração de manteiga. Um filme de roteiro simples e sensível o bastante para comover sem precisar recorrer às armadilhas do melodrama. Mas nada disso funcionaria se o pequeno Jackie Coogan não tivesse sido escolhido para viver o personagem-título. Simplesmente encantador, ele soa sincero em cada cena, desde as sequências mais corriqueiras aos momentos realmente difíceis, como a brusca separação entre ele e Carlitos, seu pai adotivo. É de partir o coração.

Chaplin, impecável como de costume, parece ter encontrado seu parceiro ideal. Inocente como uma criança, o vagabundo chega a imaginar que algum desavisado poderia ter jogado aquele recém-nascido pela janela, junto com um monte de lixo. Seu instinto de andarilho o leva a tentar se livrar do bebê, mas as circunstâncias, em primeiro lugar, e a quase imediata afeição com John fazem com que os dois logo formem uma família. Não exemplar, talvez, mas feliz. 

O menino, que por vezes assume o lugar do pai nessa flexível e improvisada estrutura familiar, lembrando de alimentar o adulto e de rezar antes de dormir e das refeições, logo entende (e curte) a ideia de que precisa ajudar na sobrevivência da dupla. O malandrinho não só quebra janelas para que o pai postiço banque o vidraceiro de emergência como sabe que precisa manter distância dos policiais. Politicamente incorreto? Sim, deliciosamente politicamente incorreto (e eu nem sei se é permitido usar dois advérbios de modo justapostos dessa maneira...).

Da mesma forma, o filme também não condena a atitude da mãe (Edna Purviance), que abandona o bebê num ato de desespero extremo, mas se arrepende em seguida, quando já é tarde demais. Boa pessoa, como mostra sua disposição e sua alegria em praticar caridade, ela cruza inesperadamente o caminho do filho sem saber. Talvez fosse a forma que o destino encontrou de lhe dizer que merecia uma segunda chance. O desfecho sempre otimista dos filmes de Chaplin foi mais simplório e menos poético que de costume, mas nada que apague a sensação boa de também termos adotado esse adorável garoto, nem que seja até a cartela final.

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