É exatamente assim que reage o Sr. Bianchi, dono da companhia férrea, a cada depoimento dos passageiros da primeira classe do Expresso Oriente. Não que o personagem seja volúvel e mude de ideia sem critério algum, mas porque nesta adaptação do romance de Agatha Christie todos são suspeitos até que Poirot prove o contrário.
Assassinato no Expresso Oriente, o nome é bastante auto-explicativo. Ocorre um assassinato no trem de mesmo nome que levava de Istambul à Londres. O(s) Assassino(s) não contava apenas com dois detalhes, a presença do famoso detetive Hercule Poirot (excentricamente interpretado por Albert Finney), e uma inconveniente barreira de neve que impede a chegada do trem em seu devido tempo. E proporciona o tempo suficiente para o detetive colher pistas e desvendar o misstério.
Entretanto, para um filme que gira em torno de um assassinato, este demora bastante a acontecer, quase meia-hora. O motivo? Antes somos devidamente informados sobre outro crime aparentemente sem conexão com o mistério do trem, o sequestro e posterior assassinato da menina Daisy Armstrong. É claro que há ligação.
A vítima do trem Ratchett (Richard Widmark), é na verdade o mandante do sequestro da menina. E como se não fosse suficiente, Poirot ainda nos informa das terríveis consequências da morte da pequena. O resultado: uma certa simpatía pelo assassino oculto, afinal Ratchett teve o que merecia.
O estranho (para aqueles que como eu não conheciam o personagem) detetive, investiga a cena do crime, encontra pistas espalhadas por todo o vagão, interroga todos os passageiros. Todos tem motivos, e muitos tem meios para matar o vilão. Logo é bastante justificável, que o Sr. Bianchi acuse veementemente cada um deles.
Nesse meio tempo, encontramos vários rostos conhecidos, e grandes interpretações vindas deles. Uniforme e sem tropeços o elenco não decepciona. O destaque fica com a pomposa e desagradável princesa interpretada por Wendy Hiller, a assutada beata vivida por Ingrid Bergman e o inconfundível Sir Sean Connery em eficiente e explosiva participação relâmpago.
O expresso em si é um personagem. Luxuoso, e claustrofóbico ora parece oferecer pouco espaço e muito tumultuado para encontrar qualquer pista. Ora parece encurralar seus suspeitos em suas estreitas cabines. Especialmente na cena da grande revelação, onde onde o espaço parece reduzido propositalmente, ao espaço de um corredor, para deixar tudo muito mais tenso.
Com todas as peças na mesa, literal e figurativamente, resta ao detetive montar o quebra-cabeças. E a nós meros mortais, tentar acompanhar com frágil ilusão de que também poderíamos descobrir por conta própria.
E embora a explicação de Poirot seja incrível, para mim faltou uma explicação para que esta fosse completamente coerente. Peço ajuda a você caro leitor para me explicar: se o assassinato ocorreu da maneira que o detetive esclareceu (versão longa), como a porta da cabine da vítima estava trancada por dentro com a corrente? Teria o(s) assassino(s) retornado à cena do crime (dizem que eles sempre voltam, né), acorrentado a porta, e saído pela janela, que não abre? Ou o falecido teve um espasmo pós mortem que miraculosamente colocou a corrente no trilho?
Quem souber por favor, acalme minhas noites insones com esta dúvida. Se não houver explicação eventualmente, vou aceitar e voltar a dormir em paz. Afinal, assassino que mata assassino...
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