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Uma dúzia de suspeitos (literalmente)

Antes de mais nada, preciso dizer que amei esse filme. E por um fato bem simples: eu consegui acompanhar a história. Entendam, eu tenho certa dificuldade em entender histórias de mistério porque eu sou meio desatenta aos detalhes. Na verdade, eu fico procurando pelo em casca de ovo, quase sempre erro. E na hora da solução final, eu já esqueci o que tinha acontecido no início; e quando tem reviravolta é pior ainda: cadê que eu consigo associar rapidamente quem fez isso ou aquilo e quem está ligado a quem? Ok, sou dessas que gosta de uma certa regularidade (já falei inúmeras vezes aqui no blog que gosto de histórias com início meio e fim, não importa em que ordem elas apareçam), mas o fator surpresa é fundamental. Não gosto de rotina.
Poirot (Linney) e os 12 suspeitos: a hora da verdade

Portanto, essa adaptação cinematográfica de Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974) é fantástica. O filme começa com o noticiamento de um sequestro seguido de morte de uma garotinha, aparentemente desconexo com o restante da história. Após o crime ser descoberto, entendemos porque dessa ligação - um crime está relacionado ao outro. Todos os personagens são introduzidos da forma correta: sem muita informação, olhares suspeitos, outros que são figurantes (mas que podem ser o elemento surpresa no fim do filme), o ambiente quase hostil do trem (apertado, sem espaço nem na primeira classe), um homem ameaçado. Uma viagem longa, de Istambul até Londres, passando por diversas cidades... Terreno perfeito para um crime perfeito, não acham? Para a sorte do Sr. Bianchi (), dono da companhia férrea, o estranho, belga e inteligentíssimo detetive Hercule Poirot (Albert Finney, fantástico na caracterização do personagem) estava a bordo. Quem solucionaria tal crime de forma tão brilhante (e dramática, também, convenhamos...)?

Vamos por partes: primeiro, quem morreu? O sr. Ratchett (Richard Widmark), mas esse era um nome falso - ele escondia a sua verdadeira identidade, sr. Cassetti, o mandante do sequestro (e posterior assassinato) da pequena Daisy Armstrong. Esse crime teve consequencias graves: a mãe da menina morreu ao dar à luz um bebê prematuro (natimorto), o pai suicidou-se ao saber da morte da esposa, e a babá também se suicidou ao ser acusada injustamente de participação no crime. Segundo: quem são os suspeitos? Praticamente todos os passageiros do carro Calais, a primeira classe. Como Poirot se envolveu no caso? O próprio Ratchett o havia convidado a fazer sua segurança, pois estava sendo ameaçado. Logo após a recusa da oferta, o magnata foi encontrado morto em sua cabine no trem. Se Poirot havia recusado trabalhar para ele porque o caso não era deveras interessante, acho que ele encontrou motivo suficientes para investigar agora... Ainda mais com a pressão do sr. Bianchi!

Bergman: ainda linda e excepcionalmente inspirada

Pois bem, aí começa a genialidade da história. Mérito total ao intrincado jogo de pistas criado pela escritora Agatha Christie, onde todos parecem ter um álibi e, ao mesmo tempo, ter culpa no cartório. São as sutilezas que vão delineando quem é o assassino, um quebra-cabeças daqueles gigantes. O diretor Sidney Lumet manteve um ritmo linear, sem muitos sustos. O foco era o detetive coletando as informações para solucionar o caso - e foi justamente isso o que me manteve atenta. Para alguns, isso pode ser enfadonho. As interpretações do elenco estão ótimas, com destaque para Ingrid Bergman (Oscarizada por esse desempenho), Wendy Hiller (como a múmia falante e com um quê de drag queen, a princesa Dragomiroff) e  Finney, memoráveis. Aliás, o elenco cheio de estrelas é ótimo. Lauren Bacall como a sra. Hubbard também está impecável. Irritante, chata e majestosa como só as viúvas ricas sabem ser. Reconheci o sorriso de Vanessa Redgrave, mas acho que realmente nunca a tinha imaginado com menos de 40 anos. E Sir Sean Connery? Em participação minúscula, disse a que veio. Ele é tão fantástico que logo na primeira cena, enquanto ele luta com um bando de ovelhas (?!) para poder chegar à barca que o levaria até a estação de trem, eu reconheci - pelo seu porte e andar majestoso. Sensacional.



Bisset e Bacall: elenco de peso marcou presença
O final surpreende também. A explanação teatral de Poirot chega ao clímax: uma resposta, mais simples e vidente, obviamente é a errada. Então ele desenha toda a trama, a motivação de cada personagem, desmascara álibis, joga a suspeita sobre cada um dos possíveis assassinos. E no fim, revela: todos são os assassinos. Todos! Eu acho que nunca havia visto um filme em que todos os suspeitos eram os assassinos! É genial! Mais brilhante ainda foi o desfecho - sim, porque solucionar o problema não era o fim. Qual seria a decisão do sr. Bianchi? Que relatório ele deveria apresentar à polícia? A fim de evitar escândalos e manchar a reputação de sua empresa, ele pede a Poirot que entregue à polícia a versão mais simples do caso; afinal, todos tinham álibis, eles estavam de posse de todos os objetos pertencentes ao 'assassino', todas as evidências estavam ali. Um suspiro de alívio varreu o carro do trem. Poirot ainda solta uma pérola: "Vou me recolher para lutar contra a verdade e meus princípios quando a polícia chegar" (ou coisa que o valha). A cena final? Os assassinos brindando à morte do assassino e à liberdade. Espetacular.

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