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Um filme cheio de escolhas felizes


Quentin Tarantino é famoso por seu estilo pop e sua estética mangá: muitas citações cool, cabeças cortadas, sangue jorrando etc. Mas sempre fui da opinião de que o melhor de seus filmes são os diálogos. Se você puxar pela memória, vai lembrar que várias cenas inesquecíveis de seus filmes são de pessoas conversando em torno de uma mesa, como a antológica discussão sobre "Like a virgin" em Cães de aluguel ou o desabafo de Jules em Pulp fiction. Pois em Bastardos inglórios, são duas sequências longas e tensas que o transformam num clássico instantâneo. A abertura, em que o coronel Landa aborda uma humilde família francesa em busca de judeus e o encontro de um oficial nazista com os conspiradores no porão de um bar em Paris.

Os dois momentos não acabam bem, óbvio. Mas os tiros e eventuais mortes decorrentes disso são apenas um desfecho anestesiante para momentos angustiantes, brilhantemente planejados e executados, em que cada palavra aumenta a tensão no ambiente, tornando-o irrespirável. Só esses momentos já valem o filme inteiro, mas o longa ainda executa Hitler (Martin Wuttke), numa das vinganças mais inusitadas da História. Tarantino se superou, mais uma vez.


Se a trajetória da judia Shoshanna (Mélanie Laurent) é marcada pela tragédia que matou sua família e a obrigou a viver sob falsa identidade na França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, os Bastardos Inglórios, soldados liderados pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt), garantem o toque de humor necessário para dar equilíbrio ao filme. Debochados, os militares que retiram escalpos e marcam os prisioneiros com uma suástica na testa são o pesadelo-mor do próprio Führer, retratado como um ser, digamos, risivel: agem na surdina, fazem pouco dos oficiais germânicos e conquistam uma fama indesejada, que se espalha mais rapidamente do que seus inimigos gostariam.

Curiosamente, o plano desse exército é quase idêntico ao da jovem fugitiva, e ambos só conseguem ir adiante graças a um vaidoso soldado, Fredrik Zoller (Daniel Brühl), que se aproxima de Emmanuelle sem desconfiar que ela é, na verdade, Shoshanna. Herói de guerra e celebridade depois de sua atuação em um filme idealizado por Goebbels (Sylvester Groth) para difundir o ideal antissemita do Terceiro Reich, ele é quem promove o temido e improvável reencontro dela com seu algoz, o coronel Hans Landa (Christoph Waltz), em outro momento eletrizante do filme.



Mas nada, nada mesmo, prepara o espectador para aquele desfecho catártico e extremamente significativo - ou você acha que a justiça ser feita dentro de uma sala de cinema é obra do acaso? Ousado, criativo e sem pontas soltas, o roteiro é um dos grandes trunfos da produção, assim como o elenco espetacular. Cada cena de Waltz é impecável: cruel e de fala mansa, o Caçador de Judeus consegue impor medo sem fazer ameaças diretas, mas também diverte com seu bordão involuntário "That's a bingo!". E Brad Pitt surpreende num papel bastante incomum em sua filmografia. As escolhas de Tarantino se revelam extremamente felizes, e é por isso que este é um dos grandes filmes da carreira do diretor

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