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Não existe amor em Alphaville


A estética é de filme noir, e a temática é de ficção científica, mas Alphaville é, basicamente, uma declaração de amor à arte. Com uma abordagem interessante e pouco convencional, o diretor e roteirista Jean-Luc Godard constrói uma curiosa metáfora sobre um mundo supostamente futurista regido por máquinas e pela lógica, que poderia se referir tanto à Paris de 1965 quanto ao Rio de Janeiro de 2013 ou a Tóquio em 2064. A diferença mais evidente desta produção para outras do gênero (embora seja tão sombria quanto) talvez seja a de que a maior ameaça não é algo que evolui e toma o controle (como a tecnologia), mas sim a perda de algo fundamental: o amor.

A estranha aventura de Lemmy Caution (Eddie Constantine) começa quando o agente recebe a missão de destruir Alpha 60, o cérebro eletrônico que controla Alphaville, uma cidade onde todos os cidadãos são controlados, punidos se agem ilogicamente e que desconhecem o significados de palavras como "por quê", "apaixonado" e "consciência". Como afirma um outro agente, com toda sua sabedoria realçada pelo alto nível de álcool no sangue (tal qual os poetas bêbados e loucos), "provavelmente, há 150 anos-luz, havia artistas na sociedade das formigas". Hoje, elas são só operárias. 

Para cumprir sua tarefa, Caution - personagem criado por Peter Cheyney e protagonista de uma série de filmes franceses, sempre interpretado por Constantine - precisa localizar o professor Von Braun (Howard Vernon), o cientista que desenvolveu a temível máquina. Mas, por ironia do destino, a filha do professor, Natacha (Anna Karina) cruza seu caminho e, inadvertidamente, nutre afeto por ele. Ela aprende que ainda possui capacidade de desenvolver sentimentos, mesmo que não consiga (ou seja proibida de) nomeá-los. A artificialidade de Constantine em cena contrasta com a força do olhar de Anna, que faz com que a câmera se enamore dela. Os demais atores, não importa qual sua importância na narrativa, agem quase como figurantes, discretos, quase invisíveis.

Aparentemente, Alphaville é uma cidade contemporânea qualquer. Não há nenhum elemento que indique que ela fique numa galáxia distante ou aparatos técnicos superevoluídos que sugiram uma sociedade avançada e distante no tempo. Ao contrário, a grande distinção do local para a terra natal do agente é um retrocesso. Quem nasce neste lugar não conhece poesia. Mais do que isso: Natacha afirma que várias palavras das quais ela gosta deixaram de existir e foram substituídas por outras, com novos significados. 

A troca mais evidente é a troca do "por quê", que questiona, que não se conforma, que provoca, pelo "porque", explicativo, racional. Há maneira mais sutil de fazer analogia com estados totalitários que rechacem liberdade de expressão? Ao mesmo tempo, há maneira mais clara de dizer que não existem cidadãos de fato se não houver pensamento? Ao final, uma outra analogia com as formigas - absolutamente desorientadas sem a figura do líder - diz muito sobre essa fictícia Alphaville. Mas é uma questão a se pensar se a ameaça de que trata o filme não é bem mais assustadora do que a de outros do gênero apregoam. O futuro do longa de Godard é sombrio. A boa notícia é que nem tudo está perdido. Ainda

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