O grande hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014) é um filme delicioso de se ver, daqueles que divertem e emocionam na dose certa. Wes Anderson acertou em cheio ao escalar o elenco, cheio de grandes atores, e apostar todas as fichas na dupla Fienes-Revolori - os dois grandes personagens dessa trama engenhosamente desenhada e magnificamente executada. Na sinopse, há um certo tratamento frio sobre como o enredo se desenvolve: dois funcionários de um hotel tornam-se melhores amigos e se envolvem em aventuras que incluem um roubo de obra de arte e o período entre guerras na Europa. O filme é muito mais que isso.
O Hotel Budapeste já esteve em melhores condições, mas ainda atrai alguns turistas que procuram a solidão e a calmaria da decadência do hotel para relaxar. Um deles, um jovem escritor (vivido nessa fase por Jude Law), percebe a presença de um estranho senhor no lobby e descobre que aquele é o dono do hotel. Fascinado pela figura, que descobre ser um homem super reservado (que prefere dormir em um quartinho de empregados ao invés de uma das luxuosas suítes do hotel), consegue conversar por ele durante um jantar. A pergunta que fez, "como foi que o senhor conseguiu comprar o hotel?" teve uma resposta surpreendente: "não comprei". É aí que a história deslancha. O dono do hotel é Moustafa (F. Murray Abraham), que um dia foi conhecido como o lobby boy Zero Moustafa (Tony Revolori, ótimo). Nos dias de glória do Budapeste, Zero foi treinado por Gustave (Ralph Fienes, excelente), o concierge do hotel. Ele era extremamente rígido quanto à conduta dos empregados e a forma como o hotel deveria ser mantido - sempre visando o melhor para os clientes e o perfeito funcionamento de tudo. Zero era imigrante, e acabou sendo admitido e treinado pessoalmente pelo concierge e com ele aprendeu como tudo deveria funcionar.
Além do trato impecável com os clientes, Gustave gostava de tratar com, digamos, mais atenção alguns clientes - especialmente se elas fossem senhoras idosas e viúvas (não é necessário acrescentar que o fator "rica" era necessário, afinal o grande Budapeste era um cinco estrelas de renome). Quando uma delas, a Madame D. (Tilda Swinton, quase irreconhecível em uma maquiagem extremamente bem feita para parecer uma senhora de 84 anos) falece, Gustave parte com Zero para ir ao enterro dela esperando que, por todos os anos de dedicação à "amiga", ela lhe tivesse reservado algum bem valioso. Nessa viagem, Zero aprendeu rápido como ser um excelente funcionário e como isso era importante não só no âmbito do hotel. Parados por tropas alemãs e questionados quanto à regularidade da presença de Zero, Gustave e o lobby boy só foram salvos pela simpatia que o coronel Henckles (Edward Norton) tinha pelo concierge, muito amigo de sua mãe.
Na hora de abrirem o testamento, toda a família de Madame D. estava presente e logicamente causou estranheza quando o advogado da falecida, o dr. Kovacs (Jeff Goldblum), anunciou que ela dedicou uma importante e valiosa obra de arte para Gustave. Dmitri (Adrien Brody) e Jopling (Willem Dafoe, será que algum dia ele fez/vai fazer o papel de mocinho?), dois dos estranhos filhos da falecida, não se conformam com isso - querem todas as posses da mãe. Inconformado por saber que seria excluído do testamento, Gustave recorre ao assalto da obra que lhe havia sido destinada. Com a ajuda de Zero e do mordomo de Madame D., ele consegue escapar com a obra. Quando o mordomo desaparece sem dizer a Gustave o que ele precisava ter dito, começa a ação. Jopling está atrás dele, pois ao que parece, um importante documento foi extraviado da papelada analisada pelo dr. Kovacs e a resposta estava com o mordomo. Na verdade, ele havia escondido o testamento verdadeiro na obra entregue a Gustave, mas não ouve tempo para que conversassem sobre isso. Mas o sinistro Jopling não iria permitir que isso ficasse barato. A história se desdobra, passando por um Gustave preso por conta do roubo da obra, refúgio em mosteiro, assassinato, plano de fuga em massa da cadeia, sociedades secretas e - como não podia deixar de ser - romance. Zero se apaixona por Agatha (Saoirse Ronan) e com a ajuda da amada consegue ajudar Gustave a fugir da prisão. O mistério do testamento só vai ser revelado no fim, e então todos os pontos se conectam.
Resolvi apressar o final da resenha porque não queria estragar tudo contanto demais. O filme vale cada segundo por vários motivos: atores excelentes em performances inspiradas, o toque de humor e melancolia em doses certas, o carisma da dupla Zero-Gustave, o preciosismo estético em cada cena, a maravilhosa produção de arte e figurino... É deslumbrante o visual do filme, e a forma narrativa que se divide em capítulos e que conecta brilhantemente o final com o início (que poderia parecer desconecto até aquele momento). Uma experiência leve e divertida, que sabe emocionar e encantar.
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