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Que bruxaria é essa?

A gente que estudou História na escola já está careca de saber que nos idos de 'nem a bisavó era nascida' todo mundo era pra lá de supersticioso. Pois é. E a coisa mais fácil do mundo era armar uma vingança daquelas bem maléficas - daquelas que a gente já se acostumou a só ver em filme/novela - e acabar com a vida da sua desavença. Literalmente. Até me pergunto se a expressão "queimar alguém" numa situação vem daí...

Bem, esse As bruxas de Salém (The crucible, ) mostra bem essa realidade. A desculpa para todos os erro cometidos era simplesmente jogar tudo na conta de Satã e as bruxas eram alguém aqui na terra que fizesse a ponte entre as maldades enviadas pelo demo e as pessoas de bem/cristãos. Lógico que em uma sociedade patriarcal, cristã, fanática e conservadora, qualquer mulher solteira que andasse pela floresta desacompanhada já levantava suspeitas. E se alguém não fosse com a sua cara por qualquer motivo - inveja, terras, dinheiro, prestígio, poder político, etc. - bastava soltar o veneno, que pegaava fogo ais rápido que rastilho de pólvora. Essas eram as bruxas da Idade Média, que tinham que provar, dos jeitos mais bizarros, que não tinham pacto com o Coisa-ruim, simplesmente porque alguém disse que ela era bruxa.

Foi isso o que Abby (Winona Ryder, em boa atuação) fez com uma cidade inteira. Querendo se safar de ter sido pega pelo tio, que calhava de ser o pastor da cidade, enquanto dançava na floresta com as amigas - ok, aqui ela não só dançava; ela realmente fez um encantamento para ter seu amado John Proctor (Daniel Day-Lewis, perfeito) de volta - a jovem armou um verdadeiro circo. Duas meninas mais novas ficaram como se estivessem mortas-vivas, e quando chegou a autoridade eclesiástica para julgar se era obra do diabo, ela "confessou" ter visto o diabo em companhia de duas mulheres da cidade. E daí começou a histeria.


As outras seguiram a farsa de Abby, e toda a cidade enlouqueceu. O pastor, com medo de que fosse descoberto o que realmente aconteceu na floresta (suas filha e sobrinha envolvidas em um escândalo moral certamente o tirariam do poder), era um dos que mais incentivavam a caça às bruxas. Todas as pessoas apontadas pelas garotas como sendo amaldiçoadas eram presas e levadas a um julgamento que só as condenaria à forca - uma das falas mais impactantes do filme vem do supremo juiz, que avisava 'se você não está a favor da corte, então está contra ela'; era assim que os acusados eram tratados. E por que Abby fez isso tudo?

Bom. Ela não era flor que se cheirasse. Apaixonada (?) por John, ela fez de tudo para tê-lo só para si - mesmo ele sendo casado com Elizabeth (Joan Allen, sensacional) e querendo se acertar com a esposa, a jovem o perturbava e perseguia, insistindo numa relação imaginária. O feitiço que pretendia realizar na floresta era para separar o casal - talvez, matar a esposa? - e, como foi descoberta e interrompida, ela viu nessa encenação a perfeita oportunidade de matar dois coelhos com uma cajadada só. "Assumindo" que vira o diabo com outras companhias, livraria-se da forca e ainda poderia acusar quem quer que fosse que tentasse culpá-la de bruxaria, inclusive a senhora Proctor. 

O filme é muito interessante porque mostra bem como era o inferno de se viver sob o medo constante: a religião impunha o medo das punições terríveis para os pequenos delitos, a sociedade vigiava cada passo do indivíduo e qualquer passo em falso era duramente julgado, nada podia ser fora do normal ou já era motivo para se suspeitar de ligações demoníacas... Devia ser muito difícil conviver com toda essa pressão e não poder se revoltar. Por isso é tão impactante as cenas de rebeldia de John e do senhor Giles Corey (Peter Vaughan, excelente), que não se deixam dobrar diante de circunstâncias tão inóspitas. Assim como ideias ruins podem germinar e se espalhar com muita rapidez, a atitude heróica e mártir desses homens também se espalhou e germinou, causando indignação na população da cidade - e em especial no revendo Hale (Rob Campbell), que viu o quão injusto estava sendo tratado o caso em Salém. 

O maior trunfo do filme é o elenco: afiado, coeso e bem dirigido, mesmo os menores papéis ganharam dimensão e força com as interpretações apaixonadas de seus intérpretes. Destaco a interpretação de Joan Allen: gélida e contida, sua personagem aparece pouco, mas rouba a cena em todas as vezes que aparece e emociona quando finalmente quebra sua casca e se abre para o marido, por quem sempre fora apaixonada e nunca conseguira demonstrar. Pelas atuações empolgantes e pela reflexão que o tema proporciona, o filme vale uma pipoca na tarde de folga.

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