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Que comece a aventura!

Uma invasão de anões no Condado!
Ok, senhores leitores de Tolkien e fãs do livro "O hobbit". Sabemos que o livro é muito diferente do que a obra que Peter Jackson se propôs a levar para as telonas. Ok, senhores críticos de cinema, que acham que o diretor tá viajando na maionese e tentando caçar níqueis dividindo a estória em uma trilogia de 3h cada. Ok, entusiastas da primeira trilogia Jackson/Tolkien, esse O Hobbit - Uma viagem inesperada (The Hobbit - Un unexpected journey, 2012) não teve o mesmo impacto que o primeiro contato com a Terra Média lá no início dos anos 2000. Mas, né? Não vamos desmerecer esta obra, que tem seus altos e baixos, mas que ainda consegue encantar.

Logo que o filme começa, a gente vê o Bilbo (aqui, ainda interpretado por Ian Holm) já velhinho, começando a escrever a história no livro vermelho que Frodo (Elijah Wood, dez depois e continua com a mesma cara de neném) herdará. Primeiro ele descreve o reino dos anões, Erebor, e como uma sombra chegou  para se instalar naquele reino, e tudo o que era próspero e feliz se desfez em cinzas quando Smaug, o Terrível, um dragão poderosíssimo, decidiu se apossar do tesouro do rei. Os anões foram obrigados a fugir, enquanto assistiam impotentes, e sem receber ajuda nenhuma dos vizinhos elfos. Uma história triste e perigosa, e que não tinha nada a ver com a pacata vida do Condado - mas que acabou sendo parte importante da vida de Bilbo. Ele se lembra, então, de quando era um jovem hobbit (e agora ele é o fofo Martin Freeman) pitando seu cachimbo tranquilamente quando Gandalf (o fofíssimo Sir Ian McKellen) o encontra, já com uma intenção na mente. A gente descobre que Gandalf, na verdade, queria que bilbo fizesse parte de sua companhia. Ele havia esperado o momento certo para agir e ajudar a Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage, que bebeu da mesma fonte que Viggo Mortensen para encarnar seu personagem; tamanha entrega é coisa para poucos) a recuperar sua cidade.

Lendo o contrato: acho que tá tudo certo, então...
Sim, isso incluía ter que matar o dragão. E ele estava ali, recrutando um hobbit do Condado, um Baggins, mais do que apegado a paninhos de crochet e outras relíquias da família, para ser a 14ª peça do quebra-cabeças. Ah, é. São 13 anões. Pra matar de inveja qualquer Branca de Neve, não? Aos poucos, os barulhentos e nada jeitosos anões vão sendo apresentados a Bilbo (e aos espectadores), conforme eles aparecem em Bolsão e devoram todo o estoque de comida do pobre hobbit - o que não é pouca coisa, não. A verdade é não dá muito pra identificar quem é quem logo de cara, e são muitos, e todos adam juntos ao mesmo tempo, e dá uma certa aflição, mas depois a gente acostuma e até gosta deles. São muito broncos, mas são engraçados e, de certa forma, transmitem a sensação de família que eles são. A linda cena dos anões aquecidos à lareira, cantando a linda canção que contava sua sina, amolece qualquer coração de pedra e faz a gente simpatizar com eles. A dura história de vida deles convence Bilbo a querer ajudar: apesar de achar que ele não iria durar tanto tempo vivo pra contar a história, aquela, talvez, fosse a última chance de ele participar de uma aventura. E ele resolveu pagar pra ver.

Valfenda: e tem lugar mais lindo que esse na Terra Média?
Pois ele não se arrependeu. Foi sair do Condado e já começou a aventura. Até que a companhia chegasse em segurança às terras de Mestre Elrond (Hugo Weaving, eterno Agente Smith) e conseguisse as informações escondidas no mapa, Bilbo e os outros (nossa, me soou tão CDZ isso...) sobreviveram a um jantar troll, uma emboscada de orcs e ainda conheceram Radagast, o Castanho (Sylvester McCoy), o simpático mago amigo de Gandalf que trouxera notícias aterradoras. Um necromante despertava um mal terrível em Dol Guldur, e os magos sabiam que precisavam agir antes que esse mal se espalhasse. Ainda assim, a prioridade do Mago Cinzento era ajudar Thorin, então eles pediram para Elrond ajudar - mesmo que tenha sido a muito contragosto do jovem Rei Anão. E a aventura não terminou ali não: saindo de lá às escondidas, eles ainda testemunharam uma tremenda guerra dos Homens de Pedra (cena lindíssima, diga-se) e caíram numa armadilha de orcs da montanha. Ali houve uma breve separação importante para todo o desenrolar da história da Terra Média: Bilbo cai em um abismo e conhece uma criatura estranha, e acaba tendo que lutar pela própria vida de um modo bem estranho. Num jogo de adivinhar, Bilbo acaba por selar o destino de muitos quando ganha de Gollum (Andy Serkis e CGI, espetaculares novamente) o direito de ter o Um Anel. Enquanto isso, os anões são salvos por Gandalf em mais uma de suas entradas de diva triunfais, só para caírem direto na boca dos lobos - literalmente.

Gandalf (McKellen): tão legal ver que ele ainda não era assim, tão confiante, e nem fazia ideia do que iria enfrentar
Claro que todo mundo se salvou, né? Senão, como que vai ter trilogia?! A ajudinha das águias gigantes também foi bem providencial, mas o "the end" foi bem... Bleh. É, porque lembrou muito o final do A sociedade do anel, mas esse filme - apesar de muito legal - não teve o mesmo carisma que o primeiro filme da trilogia anterior. Aliás, acho que é só isso mesmo o que falta a esse Uma jornada inesperada: carisma. O Bilbo que Freeman criou é uma graça, cheio de trejeitos e deliciosamente inocente e esperto ao mesmo tempo. Mas é difícil criar empatia por tantos anões em tão pouco tempo, e não dá pra matar as saudades de outros personagens - até porque eles nem poderiam estar ali, já que essa parte acontece antes da trilogia do anel. O que salva esse filme é mesmo a curiosidade da galera em saber o que o diretor aprontou agora, o que ele vai nos mostrar de novo, como ele vai linkar uma estória na outra, se vai ser tão legal quanto foi a primeira... A comparação e a expectativa são inevitáveis e, sinto dizer, acabam prejudicando a gente. Os efeitos especiais estão ainda melhores (e devo dizer que, à época do lançamento, eu acabei vendo o filme em 3 formatos diferentes: normal, 3D e 48fps, e essa última versão aí me deixou absolutamente encantada) e as já conhecidas direção de arte e fotografia caprichadas não decepcionam, mas - pra quem acompanhou Frodo e Cia. no início da década passada - ainda assim não convencem muito.

Ainda assim, dei um voto de confiança aos anões. Acho que eles ainda vão render muito pano pra manga, com sua bravura desmedida e suas gracinhas, e também espero ver se vou gostar mais da estória contada por Jackson do que a que tem no livro - perdoem-me, puristas e/ou manés de plantão, mas não tenho medo de gostar mais do filme. Eu criei um hábito de ter um novo grande filme a cada fim de ano para ir ao cinema, justamente com a chegada às telonas da primeira trilogia de Jackson (e foi através dela que eu conheci o mundo da literatura fantástica), e meu ânimo foi renovado com esse Uma jornada inesperada. E, devo dizer, que é triste saber que ao término desta trilogia vou voltar a ficar carente de uma saga épica e fantástica que me leve aos cinemas nas pré-estreias das madrugadas da vida. Mas é a vida. E tanto lá na Terra Média quanto cá, na vida real, ela é bonita e perigosa. Saí esperando pela segunda parte nem tão ansiosa quanto eu esperava que ficaria, mas sabia que um diretor tão apaixonado por seus filmes não nos decepcionaria. E eu não me enganei.

Bilbo (Freeman) e o momento mais emocionante do filme: quando o Um Anel aparece

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