Grandes olhos (Big eyes, 2015) é, inacreditavelmente, uma história real. É meio surreal a forma como a protagonista Margaret (Amy Adams) e o seu futuro marido, Walter Keane (Christopher Waltz, dispensa apresentações) se conhecem e se apaixonam. E mais surreal ainda é como as coisas se desenrolam.
Ela é uma mãe recém-separada, à procura de um emprego que lhe garanta o sustento de sua filha. Em meio à dificuldade de se conseguir quem a considere respeitável, nas horas vagas entre as buscas do emprego, ela vende as obras de arte que produz. Seu verdadeiro talento está em reproduzir crianças ligeiramente deprimidas, e a característica mais impressionantes são os olhos: enormes, expressivos, intensos. Mesmo em uma simples caricatura no parque, o estilo estava lá.
Walter se aproxima da moça, jogando todo o seu charme para ela, que não resite. Em pouco tempo, Margaret, a filha e Walter são uma família feliz. As coisas vão bem para eles até que Walter começa tomar crédito pela obra de Margaret. Seu tino comercial o faz expor seus quadros e o de sua esposa (que agora assina Keane em vez do habitual Ulbrich, já que não estava mais solteira) dentro de um bar. Os quadros nem chamam muito a atenção até que ele se envolve em uma briga com o dono do lugar.
Depois da briga, que rendeu lucro para ambos, e de uma certa ajudinha de um jornalista, os Keane começam a sentir o gostinho da fama. Margaret ficou insatisfeita e triste quando descobriu o que o marido estava fazendo, mas ele acabou vonvencendo-a de que era o melhor a se fazer. E, depois de começarem a fazer fama, ela não poderia desmentir o marido sem que ambos fossem acusados formalmente de fraude. Começava, aí, o inferno de Margaret.
O filme é bem bacana, tem uma estória bem louca (e verdadeira), com sequências ótimas - que melhoram pro final, e atuações muito boas de Waltz e Adams. Ele exagera nos trambiques e nos faz rir até quando seu personagem se torna odioso, e ela segura bem as pontas de uma mulher submissa e presa em uma sociedade privadora dos direitos da mulher que descobre, aos poucos, que ela pode (e deve, e merece) conquistar uma vida melhor.
Leve e divertido, retratando bem os fatos quase inacreditáveis da história real em que se baseia, o longa vai se delineando aos poucos. As personagens parecem pintadas em tintas mais fortes, como toda a patifaria e inocência descabidas nos personagens principais, mas ainda assim é bastante crível.
O que causa estranheza é ver o nome de Tim Burton nos créditos. Sabe quando você sabe exatamente o que esperar de alguém e essa pessoa te surpreende e você não sabe se gostou da surpresa ou não? Pois é essa a sensação que se tem ao sair do cinema. Às vezes a gente se esquece que é ele quem está por trás das câmeras (se não fosse por uma cena estranhamente inserida no filme, a "mão" dele passaria despercebida), o que chegou a passar pela minha cabeça de que não fosse ele mesmo quem tivesse dirigido, mas outra pessoa (qualquer, diga-se) de talento mediano que o tivesse feito e ele levado os créditos. Talvez essa tenha sido a real intenção do diretor, o que faria desse "Grandes olhos" um filme genial em sua piada. Mas, ao acender das luzes, é apenas um filme leve e divertido, que vai ficar à sombra de outros grandes trabalhos do diretor.
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