O Doutrinador


O Doutrinador (2018) é um filme para ser prestigiado nos cinemas por vários motivos - o principal, eu citaria, é que é uma adaptação para as telonas da HQ brasileira criada por Luciano Cunha. O nicho de onde veio parece pequeno em relação aos outros sucessos de público nacionais, e tampouco o longa de Gustavo Bonafé e Fábio Mendonça é um "filme de festival"; mas o tema, atual e relevante, deve atrair a atenção do espectador. Na trama, um agente federal partirá para uma vingança pessoal após uma tragédia familiar e irá caçar aqueles que considera os culpados de sua dor.

Sandro Correa (Moscovis), ladeado por Edu (Assis) e Miguel (Pissolato), é preso por corrupção
Miguel (Kiko Pissolato) é um agente federal encarregado de investigar um grande esquema de corrupção na área da Saúde. Seu trabalho o levou ao nome do prefeito Sandro Correa (Eduardo Moscovis) e uma força tarefa foi implantada para prendê-lo. Porém, tudo acaba em pizza - até que Miguel precise de assistência médica pública e não consiga. É aí que desperta o lado vingativo do policial, e que sua caçada pelos culpados vai começar.

Miguel e Nina (Medina): unindo forças
O que Miguel não percebe é que ele ainda tem o que perder: sua busca implacável pelos culpados (que, convenhamos, tampouco são inocentes na história) afeta não somente a seus amigos, como o parceiro Edu (Samuel de Assis) e a ex-mulher Isabela (Natália Lage), além de envolver estranhos como a hacker e militante Nina (Tainá Medina) em uma luta pela sobrevivência. 

O filme tem, portanto, seus altos e baixos. A bela fotografia de Rodrigo Carvalho ajuda a compor o visual de quadrinhos que a gente esperava ver, e o o ritmo da ação está quase perfeito - faltou muito pouco para a montagem de Federico Brioni e Sabrina Wilkins acertarem a dinâmica para enfatizar diálogos e sequências de ação. Nisso, temos que louvar o desempenho dos envolvidos, pois é raríssimo ver um exemplo nacional desse gênero - e o resultado soa bastante satisfatório. O problema está no roteiro e, em boa parte, na escolha dos protagonistas.

Visual de HQ é muito bem resolvido e o resultado é ótimo
Kiko Pissolato e Tainá Medina, que interpretam o agente e a hacker, acabam sendo engolidos por seus parceiros de cena - mesmo quando em participações especiais pequenas, como acontece com Eduardo Moscovis e Natália Lage - o que leva a um enfraquecimento dos personagens. Outros grandes nomes e atuações reforçam a sensação, como as atuações de Tuca Andrada (como o delegado Siqueira, chefe de Miguel e Edu) e Carlos Betão (como Antero Gomes, um político corrupto), por exemplo. A motivação do protagonista também fica bem óbvia, sem que haja uma real surpresa no caminho, e a escolha do nome "Doutrinador" para o anti-herói não é explicada em momento algum.

Além disso, não há no roteiro a sensação clara do "onde e quando" estamos e que gera uma confusão. Explico: sabemos se tratar do Brasil, mas não temos uma indicação clara de qual ano a estória se passa, além de não ficar claro que a cidade onde se passa a ação é a fictícia Santa Cruz - fica uma mistura de metrópoles como São Paulo e Brasília, mas jamais é apresentada uma diferenciação entre o real e a ficção (nem mesmo a citação do nome da cidade). Outro grave incômodo foi a caracterização estereotipada dos políticos vilões e corruptos, que vivem rindo o tempo todo e maquinando artimanhas em jantares caros. 

Políticos planejando golpes: estereótipos mal explorados
A  boa notícia é que o filme entretém e leva a uma reflexão no fim. É possível que parte do público concorde com a legitimidade da intenção do Doutrinador, e seria interessante que chegassem à mesma conclusão também. A indicação de que haverá uma continuidade na estória (com uma série a ser veiculada no ano que vem pelo canal Space) para fechar as muitas brechas que permaneceram abertas é um grande alívio, pois muitos bons personagens merecem - e provavelmente deverão - ser explorados. O Doutrinador merece ser prestigiado nos cinemas para que abra caminho para novos projetos do gênero, para a ousadia de arriscar oferecer um produto de qualidade sem um público garantido e para valorizar os esforços de trazer novo fôlego para o cinema nacional.

0 comentários:

Meses temáticos!

Confira nosso catálogo de críticas e curiosidades completo, distribuído em listas e meses temáticos.

Lista de 2015 Lista de 2010
Meses temáticos
2014 2013 2012 2011
Trilogia Millenium Ficção-cientifica Pioneiros De Volta para o Futuro
Meryl Streep e o Oscar Broadway Brasileiros no Oscar Liz Taylor
Fantasias dos anos 80 Realeza Tarantino Filmes de "mulherzinha"
Pé na estrada Scorcese Chaplin Stephen King
Mês Mutante Off-Disney Filmes de guerra Noivas
Mês do Futebol Mês do Terror Agatha Christie Genny Kelly
Mês Depp+Burton Shakespeare HQs Harry Potter
Cinebiografias Pequenos Notáveis Divas Almodovar
Robin Williams Mês do Rock Woody Allen Remakes
Mês das Bruxas Alfred Hitchcock Rei Arthur Vampiros
Humor Britânico John Wayne John Hughes Elvis
Mês O Hobbit Contos de Fadas Apocalipse O Senhor dos Anéis
  • Facebook Twitter RSS
As definições do projeto para formar cinéfilas melhores foram atualizadas

Nascemos como um projeto para assistir e conhecer cinema. Maratonamos várias listas de filmes, e aprimoramos nossa cinefilia. Agora estamos em uma pausa (esperamos que breve), mas ainda temos tempo para resenhar um lançamento ou outro. Vem amar cinema com a gente!

Gêneros

Resenhas (825) Drama (247) Lançamentos (174) Ficção científica (113) Aventura (108) Comédia (79) Ação (59) Musical (54) Terror (51) Fantasia (43) Animação (32) Biografia (27) Comédia romântica (26) Épico (24) Faroeste (22) Thriller (8)

Arquivo do blog

Seja parceiro

Descubra como!
 
Copyright ©
Created By Sora Templates | Distributed By Gooyaabi Templates