Rocketman


A cinebiografia do ídolo musical britânico Elton John chega aos cinemas recheado de fantasia, drama e muita música boa. Rocketman (Rocketman, 2019) acerta no tom ao misturar memórias afetivas, roteiro bem estruturado - apesar de não ser muito inovador - e ótimos números musicais, tornando o filme uma ótima opção para os fãs ou quem busca apenas um bom entretenimento. Há equilíbrio entre nostalgia, fascínio, bom humor, solidão e renascimento nesse fantasioso desabafo cinematográfico. Destaque para a ótima produção de cena, figurino e a atuação acima da média de todo o elenco.

Elton John (Egerton) chega assim para sua primeira sessão de terapia
Ícone do cenário musical internacional, o músico Elton John é conhecido por sua genialidade musical e também pelos inúmeros escândalos em que se meteu. Mas aqui, no roteiro de Lee Hall, somos levados a ver mais do que apenas as manchetes dos jornais. De forma delicada e respeitosa, Hall desenha a transformação do pequeno Reginald Dwight em um astro mundial sem negar (ou se fixar a) o espírito encrenqueiro ou os problemas com vício em álcool e drogas. Assim, o espectador começa a assistir a história da vida de Reggie - como era chamado em família - pelas lembranças dele em uma sessão dos Alcoólicos Anônimos. 

O pequeno Reggie (Illesley) em seu sonho: ótima participação do ator mirim
Já na primeira sequência, percebemos o tom do filme: transitando do drama para um musical bem coreografado e entremeado com a estrutura dramática, somos levados do momento crucial da vida do adulto Elton Hercules John (Taron Egerton, excelente) para a infância de Reggie Dwight (Matthew Illesley) para conhecer como tudo começou. Vivendo com a mãe, Sheila (Bryce Dallas Howard) e a avó, Ivy (Gemma Jones), o garoto pouco tem contato com o pai, Stanley (Steven Macintosh). De fato, essa rejeição irá moldar toda sua trajetória. O talento musical se fez notar desde essa época, e apenas a avó parecia incentivar e apoiar sua escolha dentro de casa. 

Bernie (Bell) e Elton: uma amizade verdadeira e duradoura
Depois de entrar para a Royal Academy of Music, Reggie aprendeu a se virar sozinho. Tomando os conselhos aqui e acolá, foi moldando seu caminho. Ao tentar a primeira entrevista em uma gravadora, despertou a atenção do jovem produtor Ray Williams (Charlie Rowe) - mas não impressionou o sócio dele, Dick James (Stephen Graham). O destino, porém, quis que esse encontro marcasse algo mais espetacular: Elton receberia as letras de um compositor que viria a se tornar seu parceiro musical e melhor amigo na vida, Bernie Taupin (Jamie Bell). Dali para os primeiros acordes de sucesso e a espetacular estreia no Troubador, em Los Angeles, foi um salto - e provavelmente um passo maior que a perna para o até então tímido cantor e pianista. Ali nascia a estrela.

John Reid (Madden): produtor e amante, tornou-se "o sal na ferida" para Elton
Já nessa estreia ele conheceria John Reid (Richard Madden), famoso produtor musical, com quem Elton se envolveria mais do que profissionalmente. Apaixonado, e com sua carreira subindo meteoricamente, Elton não percebeu que ali era o início da sua decadência. O vício em álcool, drogas, sexo e compras explode quando a relação entre eles começa a se quebrar, e só tende a piorar ao longo dos anos - até culminar na fatídica sessão de terapia em grupo do início do filme. Mesmo sem muitas surpresas no roteiro, a eficiência com que conta a história do cantor e mescla os números musicais (repletos dos grandes sucessos do autor) para pontuar as mudanças de curso. Com espaço para muito bom humor, o filme soa como um desabafo público do cantor e uma tentativa de fazer as pazes com o passado - e o resultado é bastante satisfatório.

O figurino extravagante dos shows e a recriação da década de 1970 são impecáveis
Se o roteiro não é genial, as atuações de boa parte do elenco são. Taron Egerton nem é tão fisicamente parecido com Elton John, mas por vezes ele se transmuta no personagem. Sua atuação é repleta de compreensão: as dores e angústias, o  vazio existencial, a paixão, o estrelismo e arrogância, o amadurecimento - Egerton defende com unhas e dentes seu Elton, e ainda canta todas as músicas com afinação impecável. E aqui é preciso destacar também a caracterização espetacular feita nesse filme, que certamente ajudaram o ator a compor o personagem. Os figurinos extravagantes pelo qual ficou conhecido na década de 1970/80 são reproduzidos quase fielmente, mas é possível identificar todos os grandes momentos da carreira do cantor apenas pelo figurino usado.

Bryce Dallas Howard: atuações do elenco na parte dramática são muito boas
Dallas Howard e Macintosh, que interpretam os pais de Elton, são particularmente certeiros. O tom de indiferença para com o filho está presente, mesmo que seus sorrisos digam outra coisa. É óbvio que há uma certa estereotipada no desdém com que eles tratam o filho, mas é perfeitamente cabível de compreensão pelo viés de "memórias da infância" que o roteiro traz. Uma importante falta, porém, não tem a ver com a memória: a duradoura e famosa amizade com a Princesa de Gales Diana Spencer não foi sequer mencionada no filme. Há uma pequena alusão ao fato de Elton ter sido, em algum momento, convidado a conhecer a rainha-mãe, sua grande fã; mas toda parte da grande amizade com a falecida princesa não foi retratada. Provavelmente foi em respeito à sua memória (justo ela, que era tão avessa ao assédio da imprensa e morreu em um trágico acidente enquanto fugia da perseguição de paparazzi).

Recriar a magia da estreia no Troubadour: solução criativa para número musical
Rocketman é um grande musical, com números criativos, bem executados e músicas empolgantes e emocionantes (com um final de gosto levemente piegas, mas ninguém liga); assim como é um drama eficiente, com boas atuações e ótima produção, direção e fotografia. Vale o ingresso e a busca pela discografia completa desse genial artista.

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