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De Quem é o Sutiã?



Por Ana Beatriz Marin

No material de divulgação, o filme De Quem é o Sutiã? é vendido como uma releitura de Cinderela. Porém, diferentemente do conto de fadas, o príncipe encantado não sai em busca da dona de um sapatinho de cristal, e sim de um... sutiã azul. Além disso, é um homem real (os príncipes encantados, assim como as princesas, são seres totalmente idealizados, certo?). Ou seja, pode até estar em busca de um grande amor, mas sua presença não se resume a aparecer no final da história para fazer uma mulher feliz para sempre (ela pode ser feliz sozinha, se quiser). Portanto, quem for ao cinema a partir desta quinta-feira (20), quando o longa entra em cartaz, não vai encontrar nenhuma das versões jamais apresentadas.

Para começar, em De Quem é o Sutiã?, do diretor alemão Veit Helmer, o protagonista é masculino, se chama Nurlan (Predrag Manojlović). Trata-se de um maquinista que, antes de se aposentar, realiza sua última viagem de trem até a cidade de Baku, no Azerbaijão. Tudo transcorre como sempre: num determinado trecho da travessia, ele passa com a locomotiva pela rua estreita do vilarejo, que serve como área de lazer para os moradores (onde colocam mesas, comem, bebem e jogam xadrez) e como varal para secar suas roupas. Um menino que trabalha em condições precárias no único bar do local, dorme numa casinha de cachorro e come graças à ajuda de uma mulher é o responsável por avisar à população sempre que o trem está a ponto de passar. Quando isso acontece, tudo é retirado às pressas do trilho. Mas eis que um dia um sutiã azul fica preso à locomotiva. Nurlan, então, decide ir em busca da dona da peça.

O filme acompanha a jornada do maquinista Nurlan (Predrag Manojlović)

Não é uma atitude inusitada, já que, nos primeiros minutos do longa, vemos o personagem voltando à cidade para devolver aos donos peças e objetos que ficaram presos no trem e ainda estão em perfeitas condições (os que não estão vão diretamente para o lixo). Mas, no que se refere ao sutiã, o ato tem um significado que vai além da simples empatia. Nurlan é um solitário homem de cerca de 60 anos, que, durante uma viagem noturna, acaba vendo uma mulher dentro de casa com a mesma peça que ficaria presa no trem tempos depois (ele reconhece o sutiã, ao vê-lo). A cena inesperada é o gatilho que desperta nele a vontade de se envolver com alguém. Mas a única tentativa que faz não dá certo. E, então, ele desiste.

Não dá para dizer que uma nova oportunidade surge no momento em que o sutiã fica preso no trem, pois o filme é desprovido de falas. Isso mesmo, Veit Helmer se lança numa licença poética para contar a história e mostrar a busca do personagem. Da forma como Nurlan é apresentado, é essa a impressão que se tem. Mas sem conversas objetivas, que possam esclarecer ou justificar suas atitudes, tudo fica no plano subjetivo. O espectador interpreta como quiser.

Logo nos damos conta de que a jornada do maquinista em busca da dona do sutiã é mais relevante do que a resposta à pergunta que dá nome ao filme. O espectador atento descobre rapidamente quem é. Mas até aqui, o que parecia ser uma fábula, entra num terreno nada agradável. À exceção das mulheres que batem a porta na cara de Nurlan quando ele mostra o tal sutiã azul, todas as outras são apresentadas através de estereótipos: ou são submissas, ou são loucas, ou são carentes, ou são desesperadas. Se era uma tentativa de Helmer de apresentar diferentes tipos femininos, errou feio.

A atriz Paz Vega está no elenco do filme

A partir de um determinado momento, encontrar a dona do sutiã torna-se uma obsessão, a ponto de Nurlan fingir ser médico ou invadir a casa de uma mulher (com consequências desastrosas). Quando absolutamente nada dá certo... bem, é preciso ver o filme para descobrir.

Um ou outro diálogo talvez faça falta para entender determinadas as motivações do protagonista. De qualquer forma, é uma escolha que nos obriga a focar inteiramente em todos os outros aspectos de um filme - planos, enquadramentos, luz, cores... - já que não precisamos dividir nossa atenção com as legendas. Trilha sonora e sons ambientes reforçados na pós-produção ajudam na narrativa.

Enfim, estejam abertos para uma experiência sensorial diferente.

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