O título do texto é só uma brincadeira, claro, mas para e pensa: você é um repórter que esbarra, assim como não quer nada, num completo estranho que quer lhe contar sua história de vida e faz um convite para ir até o seu apartamento. Você iria? Nem eu. Ok, esse estranho é o Brad Pitt, mas qual a chance de algo bom sair daí? Zero. Mas quis o destino que seu entrevistado fosse um vampiro de mais de 200 anos que resolveu falar. O porquê eu não tenho a menor ideia. Tédio? Vaidade? Vontade de espalhar o pânico no mundo? Ser chamado para ser jurado do American idol? Se alguém souber, me explica, porque estamos nos cinco minutos iniciais, e a premissa de Entrevista com o vampiro já está comprometida.
Tudo bem, a gente sabe que o Christian Slater tá ali só como elenco de apoio e que essa história toda é só uma desculpa para o grande flashback que constitui realmente o que interessa no filme. Transformado no ser sanguinário e imortal por Lestat (Tom Cruise), Louis (Pitt) é o vampiro mais atormentado que existe. Em 1791, quando passou desta para esta vida mesmo, a dor pela perda da mulher e do filho que nunca chegou a nascer o consumia. A imortalidade era só um detalhe. Mas a fome que se tornava cada vez mais carrasca era sempre suprimida por seus princípios. Matar não era uma opção, mesmo que isso significasse passar a eternidade se alimentando de ratos e outros animais.
A relação entre Lestat e Louis é, portanto, desde o início bastante conflituosa. A homossexualidade é claramente percebida o tempo todo, embora nunca seja realmente explícita. Tanto o roteiro de Anne Rice quanto a direção de Neil Jordan fazem questão de salientar a sensualidade e a tensão entre os dois, mas isso não é uma questão a ser debatida, simplesmente faz parte da vida deles. A chegada de Claudia (Kirsten Dunst) ao universo deles reforça ainda mais essa naturalidade: "Agora somos uma família". Mas, como em qualquer casamento, uma crise tão forte quanto a que rondava o casal não pode ser negligenciada desta forma. Imagina viver em crise por séculos e séculos a fio...
O filme consegue delinear bem as diferenças entre as personalidades de cada um, e é isso que torna a trama interessante. É possível ver Pitt e Cruise se esforçando em cada cena. Este se sai melhor, talvez porque seu personagem seja mais forte. Louis hesita muito, reclama muito, lamenta muito, porque se recusa a deixar de ser humano, coisa que Lestat abandonou faz tempo. Sendo assim, o sr. Angelina Jolie tem mais dificuldade em demonstrar todas essas dúvidas sem parecer fraco e, às vezes, irritante. Mas um outro fator contribui muito para isso: o texto ruim. Isso fica visível especialmente no encontro do vampiro com o misterioso Armand (Antonio Banderas), que não tem as respostas para as perguntas que o atormentam há séculos. O esperado momento da verdade não se concretiza e vira apenas um apanhado de frases vazias.
O longa tem seus melhores momentos nas cenas de ação, portanto, como as sequências finais no ninho dos vampiros. Mas o destaque mesmo é Claudia, uma personagem fascinante, interpretada com brilhantismo por uma precoce Kirsten Dunst. Apesar da imagem frágil, a menina não é mais aquela pequena órfã que deu razão à existência de Louis. Melhor vampira do que ele jamais será, ela intriga pela facilidade com que encara a nova rotina, comove quando percebe que nunca será uma adulta e assombra pelas atitudes ora maduras, ora extremas, nunca inocentes. Detestável e adorável ao mesmo tempo, ela foi a companhia que Lestat nunca conseguiu ser para Louis. Vai ver foi por isso que ele procurou o tal repórter: pra fazer terapia...
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