Adaptação livre do livro escrito por Lúcia Machado de Almeida que fez parte da infância de muita gente graças à Coleção Vagalume, O escaravelho do diabo (2016) é um filme que vai causar muita estranheza aos fãs mais conservadores. Obra début do diretor Carlo Milani, o longa promete surpreender quem nunca ouviu falar do Assassino do Escaravelho e sua estranha obsessão por cabelos ruivos, e pode ainda agradar aos pequenos que se interessam por um suspense.
O aviso da morte |
Quando Alberto (Thiago Rosseti), um menino muito apegado a seu irmão mais velho, Hugo (Cirilo Luna), descobre que ele fora assassinado em sua casa de forma brutal após receber um escaravelho em uma caixa pelo correio, e logo em seguida um jovem também ruivo aparece morto em um aparente suicídio - porém sem motivo algum -, a única esperança dele é contar com a ajuda do delegado Pimentel (Marcos Caruso, eficiente). Ao contar a ele sobre suas suspeitas sobre as mortes estarem conectadas entre si e aos escaravelhos que ambos receberam, primeiro não consegue receber a devida atenção justamente por ser uma criança. Mas a partir do terceiro crime, os adultos começam a dar atenção àquela linha de investigação.
Hugo (Luna) e Alberto (Rosseti): as primeiras vítimas do Escaravelho do Diabo |
Mas o próprio delegado tem seus próprios problemas a enfrentar. Batalhando com a própria saúde para se manter no cargo e nas investigações, além de ajudar ao próprio garoto, Pimentel ainda tem que enfrentar a imprensa (que está louca para saber mais sobre o assassino). Alberto, por sua vez, se preocupa com Rachel (Bruna Cavalieri), a menininha ruiva por quem é apaixonado. Tentando de todas as formas fazer com que sua família compreenda que o melhor para eles é fugir da cidade enquanto o assassino está à solta, o pai da jovem, o dono do antiquário Jairo Saturnino (Celso Frateschi) parece esconder um segredo.
Rachel (Cavalieri): a mudança drástica em alguns personagens não funcionaram muito bem |
A produção é caprichada, e tem locações interessantes, mas o maior problema é a falta de ritmo. O longa se arrasta em sequências longas demais e na demora em apresentar todos os personagens principais. Falta o mistério que envolvia o texto no livro, em que pistas eram lançadas a todo momento e não traziam nenhuma resolução - apenas mais suspeitas, e sobre qualquer um. O começo é totalmente diferente para explicar a gênese do vilão, mas tampouco convence: uma tentativa de trazer algo mais sombrio e, quiçá, sobrenatural, não funcionou. A transformação de Alberto em um personagem criança também não funcionou, assim como a alteração de outros personagens também incomodaram. Fora o acréscimo do repórter, que foi um alívio cômico bem-vindo e um personagem muito bem defendido por Bruce Gomlevsky, a adaptação ficou muito aquém da expectativa dos fãs - que, como eu, esperaram anos para ver a eletrizante estória nas telonas.
Delegado Pimentel (Caruso): enfrentando vários problemas ao mesmo tempo |
Salvo as interpretações dos atores mais velhos, como Caruso, Frateschi, Jonas Bloch e Selma Egrei, o filme não empolga. Quando parece que finalmente vai embalar e acontecer mais alguma coisa, chega-se ao clímax. Mas uma coisa eu preciso reconhecer: a atualização do livro, escrito na década de 1970, para a realidade de uma cidade do interior do século XXI foi bem feita (afinal, soa bem mais coerente uma estrela do rock querer fazer um clipe em uma fazenda do que um jovem ir a uma montagem de ópera; além de haver uma proximidade com o público ao se excluírem os personagens estrangeiros da pensão da Sra. O'Shea). Só me resta esperar que, um dia, alguém tenha a vontade de produzir uma versão mais fiel - e para maiores de 18 anos - da estória que tanto me assustou quando criança.
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