O Rei do Show (
The Greatest Showman, 2017) narra a trajetória de P. T. Barnum (Hugh Jackman) de um simples filho de alfaiate a um dos maiores nomes do entretenimento nos Estados Unidos do século 19. Motivado pelo fato de sua paixão de infância e futura esposa Charity (Michelle Williams) vir de uma família rica, ele quis se tornar um grande homem na sociedade para lhe dar todo o conforto que merecia - e também para se provar ao sogro, que não aprovava a relação por ele ser pobre.
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A família Barnum: depois das dificuldades, a fartura |
Barnum se aproveita dos limões da vida para fazer suas limonadas: pulando de emprego em emprego, consegue sustentar a esposa e as duas filhas, Caroline (Austyn Johnson) e Helen (Cameron Seely). Quando é demitido, porém, de seu último emprego, surge uma oportunidade. Valendo-se de uma manobra (em bom português, fraude), consegue um bom empréstimo no banco para financiar seu sonho: construir um museu de raridades (leia-se "esquisitices"). Os negócios, porém, vão mal das pernas pois ninguém parece tão entusiasmado quanto ele e suas meninas com a ideia. Da sugestão de uma delas nasceu a fagulha: ele precisava de coisas vivas naquele lugar.
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Lettie (Settle) encabeça o grupo dos artistas recrutados por Barnum |
A família se pôs à caça de talentos (ou nem tanto) que fossem únicos, pessoas geralmente excluídas da sociedade por suas características físicas para torná-las estrelas de seu inusitado show. A princípio relutantes, elas aceitam e acabam encontrando forças para encarar a sociedade de frente - muitos pela primeira vez a vida. O show torna-se um sucesso de público, mas enfrenta resistência da crítica e dos preconceituosos. Barnum, porém, não esmorece: continua tentando ampliar seu negócio, e arruma uma inusitada parceria com Phillip Carlyle (Zac Efron) - um bom produtor de teatro, que tinha clientes ricos porém insatisfeitos com seus espetáculos. Agora, parece que o céu é o limite para o império de Barnum - mas não é bem assim que as coisas acontecem.
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Carlyle (Efron) e Barnum (Jackman): melhor sequência do musical |
Apesar do visual caprichado - e aqui incluo uma fotografia belíssima, figurinos e caracterizações muito bem executados, além de uma rica direção de arte - o filme não me cativou. A empolgação alheia (reação da maioria que assistiu à mesma exibição que eu) foi diretamente proporcional à minha decepção. Apesar do carisma de Jackson, Williams e Efron, do clima de fantasia que permeia todo o longa, tudo é meio morno, afobado e tediosamente previsível. Para um filme com cara de espetáculo da Broadway, ficar parecendo filme pipoca da Sessão da Tarde foi um resultado até bom. Me incomodou bastante também a sensação de que o diretor Michael Gracey queria provar para nós, espectadores, que ele podia fazer um novo
Moulin Rouge - só que ele passou longe da genialidade de Baz Luhzman aqui. Já estamos acostumados com as coreografias modernas, mas em alguns números a dança parecia apressada demais para o clima da cena.
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Falta delicadeza para cantar e dançar com poesia o amor desses dois |
Há muitos excessos e muitas faltas. Excesso de efeitos especiais (os animais do circo ficaram bem falsos), de condescendência pelo personagem principal (ele ganhou a vida ludibriando os outros), de músicas repetitivas (fora dois números realmente empolgantes, todas as outras músicas pareciam a mesma), excesso de músicas dubladas bem coreografadas (já vi
lipsyncs melhores em programas de TV...). Mas o pior foi o que faltou: não há espaço para dar dimensão aos outros personagens. Os artistas - aqueles que deveriam ser exaltados no palco - foram esquecidos até na tela (pareciam apenas o corpo de baile ao invés dos protagonistas do show de Barnum), o romance dos astros teen Zendaya e Zac Efron não convence (e ainda fica só de raspão a crítica ao preconceito ao amor inter-racial)... Faltou alma ao filme, mesmo que seus atores tenham se empenhado para fazer um grande espetáculo.
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Zendaya convence no drama, mas romance da personagem não empolga |
Ok, admito que gostei e muito de ver Zendaya cantando e em cena (e o máximo que eu sabia dela era que havia sido protagonista de um seriado infantil da Disney) e que ela provou que tem muito potencial dramático, mas só o carisma dos atores definitivamente não funciona para salvar um roteiro fraco. No fim, a sensação é de que eu também fui ludibriada por Barnum e assisti a um de seus shows fraudulentos. Assim, dá para assistir o resultado final dessa estória - e eu duvido que você consiga sair sem cantarolar as músicas - mas
O Rei do Show está longe de ser um dos melhores do seu gênero.
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