A estória de O Touro Ferdinando (Ferdinand, 2018) é baseada no romance "Ferdinando, o Touro" ("The story of Ferdinand", no original inglês) do escritor americano Munro Leaf. A clara mensagem pacifista do livro transformou-se numa divertidíssima adaptação para o cinema pelas mãos de Carlos Saldanha (diretor brasileiro de animações como Rio e A Era do Gelo 2). A animação de quase 2h não cansa ao expectador e ainda diverte e emociona a crianças e adultos. Atenção para a dublagem brasileira, que arrasou no tom para cada personagem (mesmo com a presença de não-dubladores, como a atriz mirim e ex-apresentadora Maísa Silva).
Ferdinando (John Cena/Duda Ribeiro) nasceu em uma fazenda especializada em criar touros para touradas. Na Casa del Toro, a única chance de sair dali era ser o touro mais forte e destemido - assim ele teria uma chance de enfrentar o toureiro que o escolhesse e, se o vencesse na arena, seria livre. Então pais ensinavam a seus filhos a serem valentes, mas o pequeno Ferdinando não queria saber de brigar. Ele gostava mesmo de flores. Seus amiguinhos zombavam dele por isso, mas nem assim ele deixou de ser gentil: afinal, seu pai também era forte e destemido, e ainda era bondoso e gentil. Foi depois que seu pai fora escolhido para lutar contra um toureiro que Ferdinando decidiu que não queria mais aquela vida.
Nina (Maísa) adota Ferdinando ainda bezerrinho: ganhou um amigão de quase uma tonelada! |
Ele consegue fugir da Casa del Toro e encontra abrigo na casa de Nina (Lily Day/Maísa). Lá ela o trata com carinho e gentileza, e Ferdinando cresce (e muito!) em um pequeno paraíso na companhia do cachorro Paco (Jerrod Charmichael) e do pai de Nina, Juan (o cantor colombiano Juanes). Sua paixão por flores o faz acompanhar a família no festival anual de flores da cidade vizinha, mas naquele ano ele não poderia ir: havia crescido demais para poder andar entre as ruas estreitas da cidade - ainda mais difícies de andar por conta dos enfeites e transeuntes. Mas Ferdinando não quis ficar para trás e acabou se metendo na maior confusão.
Paco (Charmichael) ficou um pouco irritado com o penteado "boi lambeu" |
Sendo levado para longe de Nina e de volta para a Casa del Toro, ele reencontra seus amigos Valente (Bobby Cannavale/Leonardo Rabelo), Guapo (Peyton Manning) e Magrão (Anthony Anderson/Paulo Vignolo) ainda lá, esperando para serem escolhidos. Até parece que nada mudou, mas as coisas mudaram muito: o clima fica mais pesado, como se a competição estivesse mais acirrada - ressaltada pela presença dos esnobes cavalos Hans (Flula Borg/Otaviano Costa), Greta (Sally Phillips) e Klaus (Boris Kodjoe). Novos touros estão no páreo para serem escolhidos por El Primero (Miguel Ángel Silvestre, o Lito de Sense8), como o touro irlandês Angus (David Tennant/Mário Jorge) e o esquisito Máquina - e eles dispõem até de uma cabra treinadora, a tresloucada Lupe (Kate McKinnon/Thalita Carauta).
Os cavalos comandados por Hans (Costa) enfrentam os touros em uma inusitada e divertida batalha de talentos |
Mas Ferdinando continua sendo ele mesmo: o que ele quer é sair dali sem lutar, e o mais rápido possível voltar para sua amada fazenda de flores e sua família com Nina, Juan e Paco. Para montar um plano de fuga, ele vai contar com a ajuda inesperada de Una (Gina Rodrigues/Bruna Laynes), Dos (Daveed Diggs/Phillipe Maia) e Cuatro (Gabriel Iglesias/Wirley Contaifer), um trio de ouriços tão habilidosos quanto fofos - e doidinhos. Enquanto isso, seus amigos ainda lutam para serem escolhidos e o chamam de covarde por só pensar em fugir. O que Ferdinando fará? Será que ele finalmente vai ouvir seus amigos e começar a brigar por sua vida? Ou vai aceitar que é um "covarde" e fugir de qualquer jeito?
Lupe (Carauta) se esforça para fazer de Ferdinando um touro matador, mas olha ele enfrentando a ira desse coelhinho! |
Envolvente desde os primeiros minutos, a sensível estória leva a gente a pensar sobre como encaramos nossa vida. É muito fácil se identificar com os personagens e seus dramas, e o mais surpreendente é que há tanto bom humor que o peso do contexto (um touro que tem como destino uma tourada não é nada mais do que uma alegoria da humanidade rumando para o final inevitável da morte) permanece como uma leve ameaça constante porém sem dominar os sentimentos do espectador. A gente se diverte tanto com as trapalhadas de Ferdinando, ri com as piadas sutis, gargalha com as crises histéricas de Lupe e as artimanhas dos ouriços que nem se dá conta do tempo passando.
O trio de ouriços é uma das coisas mais fofas do filme (que já é uma fofura só!) |
Com uma mensagem importante de respeito a si próprio, de consciência de que existe um mundo muito maior do que aquela bolha onde a gente vive (e que as regras nem sempre são justas), de que um ato de bondade pode mudar a vida de outras pessoas, O Touro Ferdinando me surpreendeu. Eu esperava ver uma animação bem feita e uma estória até triste e melancólica, mas do início ao fim o tom é positivo. Pais e filhos vão adorar os personagens e aprender preciosas lições de otimismo consciente, de bondade e amizade, enquanto se divertem a valer. Uma ótima pedida para as férias, vale o ingresso e a pipoca da família inteira.
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