Um Banho de Vida (Le Grand Bain, 2018) chega aos cinemas trazendo um olhar atento e sensível a um dos grandes problemas desse século: a depressão clínica. De forma bem humorada e inteligente, e contando com excelentes performances do elenco, o diretor Gilles Lellouche traz vida ao roteiro e esperança aos que passam por situação semelhante: encontrar um foco e um grupo de apoio, por menos convencionais que sejam, pode fazer toda a diferença.
Bertrand (Almaric) e Claire (Fois): na alegria e na tristeza, um casamento de verdade |
Bertrand (Mathieu Almaric) sofre de depressão há algum tempo e não consegue mais um emprego. Sua mulher, Claire (Marina Fois), é quem comanda a casa e os filhos - compreensiva, ela entende que o marido não está em suas melhores condições, mas continua a amá-lo e respeitá-lo, além de incentivá-lo a melhorar. Uma postura bem diferente do resto da família: seus filhos já não o respeitam e sua cunhada, Clem (Mélanie Doutey), aproveita para incentivar a irmã a desistir do casamento em descompasso.
Os atletas: Basile (Ivanov), Simon (Anglade), Avanish (Tamilchevan), Thierry (Katherine), Marcus (Poelvoorde), Bertrand e Laurent (Canet) |
Procurando alguma coisa que o faça recuperar a vontade de viver, Bertrand descobre um grupo de nado sincronizado masculino por um anúncio num mural. Ele decide se matricular e lá vai conhecer a professora Delphine (Virgine Efira), uma ex-atleta profissional que também parece um tanto perdida na vida, e o grupo mais desconjuntado e descoordenado de nadadores sincronizados. Já treinavam com Delphine: Laurent (Guillaume Canet), um operador de máquinas de caldeira obcecado com perfeição; Marcus (Benoît Poelvoorde), um vendedor de piscinas enrolado em dívidas; Simon (Jean-Hugues Anglade), um músico e compositor que trabalha no refeitório do colégio da filha que ainda vive o sonho do estrelato; Thierry (Phillipe Katherine), o guardião de piscinas que mais parece uma criança grande; Basile (Alban Ivanov) e Avanish (Balasingham Tamilchevan), uma dupla que parece não falar coisa com coisa, mas que se entendem mutuamente.
Ajudada por Thierry, Amanda (Bekhti) treina o grupo na ausência de Delphine |
Sendo caçoados por todos por se dedicarem a um esporte majoritariamente feminino, o grupo encontra forças nos encontros semanais: se dentro da piscina o rendimento é quase nulo, no pós-aula eles são um grupo de terapia (in)voluntário. Compartilhar seus problemas, sem serem caçoados, sempre se perdoando pelos excessos que às vezes cometem, é o que une esses homens. Tudo funciona bem até dois eventos acontecerem: eles resolvem se inscrever para competir no mundial de nado sincronizado masculino e Delphine abandona o grupo por motivos pessoais. É a vez de Amanda (Leïla Bekhti), a professora cadeirante do grupo feminino, entrar em cena e fazer com que eles não desistam de competir.
Delphine (Efira): empatia e esforço não se ensinam, mas transformam a vida de todos |
Essa inusitada reunião de pessoas, cada qual com suas dores e seus dilemas, seus jeitos de enfrentar os problemas que aparecem - geralmente nos piores momentos - é que tornam Um Banho de Vida um filme especial. A humanidade de cada um dos personagens é tocante, e o espectador é levado a torcer para que todos consigam se superar. São dores cotidianas e jeitos mundanos de se levar a vida, retratados com sensibilidade e bom humor. Os diálogos são precisos: objetivos e afiados, passam mensagens profundas de apoio e cortam preconceitos como navalhas - e os méritos vão para o diretor Lellouche, que, além dos diálogos, assina também o roteiro do longa com Ahmed Hamidi e Julien Lambroschini. A fotografia de Laurent Tangy e a trilha sonora de John Brion também contribuem para essa ser uma experiência deliciosa no cinema.
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