Quando ouvir dizer que o filme de cinema intitulado O Bandido da Luz Vermelha é livremente inspirado na vida do bandido real de mesmo nome, lembre-se: a ênfase está no livremente! A vida da versão cinematográfica é bem mais curta que a de seu inspirador, mas é tempo suficiente para contar muita coisa.
Enquanto comete seus crimes, com muito estilo (conversa com as vítimas quando está afim, elimina sem pensar duas vezes, elabora grandes fugas, sem falar no visual bang-bang de sua máscara) a polícia, a mídia e a sociedade faz um estardalhaço.
Policiais e investigadores buscam qualquer pista. Jornalistas inventam nomes, publicam qualquer história, ou mesmo mero rumor relacionado a ele. Entre os civis, de pessoas comuns a candidatos a cargos políticos, muitos afirmam saber a real identidade do bandido. E "Luz" (um de seus muitos nomes) continua apenas vivendo sua vidinha. O "inha" é para reforçar a mediocridade de sua existência, apontada por ele mesmo repetidamente, durante todo o longa.
O cenário, um Brasil nos anos 60 muito mais movimentado que eu esperava ver no longa. Movimentos políticos, especulações, drogas, bandidos a solta e até bolas luminosas no céu, tudo devidamente exposto de forma empolgante pela narração. E como este filme tem narração! Além dos devaneios do bandido vivido por Paulo Vilaça, um programa de rádio pseudo-jornalístico nos acompanha durante toda a projeção. Apresentado por um casal, as notícias são enfatizadas pelo revezamento (!?) das vozes masculina e feminina, que dividem não apenas notícias, mas frases e até palavras.
Impossível não mencionar a narrativa, completamente desconstruida, ousada e cheia de recursos como a própria narração constante os letreiros luminosos. 1968? Foi mesmo feito naquela época?
Para o Bandido, a situação começa a mudar quando uma amante entra em cena. Rejeitada e a procura de vingança, Janete Jane acaba descobrindo seu segredo e espalhando aos sete ventos. E mesmo tendo acertado as contas com a moça (mais uma execução fria), ele até que gostou da possibilidade de receber alguma atenção. Mas nem isso, afinal ele era um boçal!
Não gosto da idéia de que "a pessoa é para o que nasce", parece um jeito bonito de afirmar a existência do destino. Entretanto pode ser verdade, se a pessoa acredita. Jorge, o bandido da luz vermelha acreditava, que não servia para nada (nem para se matar), e foi assim que levou sua vida. Sem perspectivas de vida não dava valor a nada, nem ninguém e acreditava que não poderia mudar nada. E quando não podemos fazer nada, agente se avacalha e se esculhamba.
Para a blogueira que vos escreve restaram uma boa primeira impressão do cinema marginal e algumas perguntas a serem solucionadas: Janete Jane só tinha uma roupa? Quando pararam de vender espígas de milho no cinema? Os binóculos eram 3D? Eram as bolas luminosas discos voadores? E finalmente, porque tentar se matar com tinta óleo se você tem uma arma? Não creio que consiga as respostas, mas não custa perguntar.
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