Era um vez em Tóquio (Tokyo Story, 1953) é uma lição de vida. Sempre admirei a cultura japonesa, os modos extremamente educados e respeitosos dessa milenar cultura oriental. E não é porque os tempos são outros e a Tóquio moderna de hoje faz a Tóquio moderna do filme parecer uma cidade modesta, quase do interior, que esse costume mudou. Uma coisa que também percebi, uma curiosidade do filme, foram os atores descalços em cena. É um sabido costume japonês o ábito de retirar os sapatos dentro de casa, mas achei interessante e curioso ver tantos pés descalços em cena (a maioria das cenas tem uma casa como cenário).
O que vemos na tela emociona pela simplicidade com que o casal de isosos vê a vida. Nascidos no interior, levavam uma vida modesta. Sofreram a perda de um filho na guerra e, com o passar dos anos, seus filhos foram para Tóquio tentar uma vida melhor. Sentiam saudades, mas sabiam que não era possível vê-los com mais frequencia. Portanto, consideravam a viagem um grande evento - quando poderiam ver todos os filhos, que já não viam há anos, e conhecer a cidade grande. Aceitavam abrigo na casa dos filhos sem reclamar de nada, nem a pirraça dos netos, nem a impaciência da filha que pareceu não gostar muito de receber os pais em casa. Tocante a cena em que eles percebem que estão incomodando a filha e decidem arrumar outro local para dormir (ele vai para a casa de um amigo, ela para a casa da ex-nora, a mais dedicada e sinceramente feliz por recebê-los em casa).
As reflexões dos senhores bêbados, sobre como criaram seus filhos, sobre o que esperar deles, também me emocionou. Sempre tive o pensamento de filha, de querer ajudar, de não decepcionar. Ver que os pais realmente esperam muito de nós e que, no fundo, não querem esperar tanto, faz reavaliar nosso comportamento. O quanto somos bons e maus para eles, o quanto fazemos por eles (sem interesse, genuínamente para agradar e deixar as suas vidas um pouco mais felizes) e com eles, o mais importante. "Ninguém pode servir aos seus pais depois que estão mortos", um dos ditados que aparecem no filme (traduzido livremente: veja bem, assisti a um filme japonês com legendas em inglês!) é uma verdade cruel. Tanto que foi exposta no fim, quando a filha impaciente chora ao lado do corpo da mãe, se perguntando se não podia ter feito mais por ela. Realmente, ela podia.
Um filme simples, com uma mensagem linda, de amor à vida e aos valores familiares, que deve amolecer até os corações mais empedrados (se eles conseguirem suportar o ritmo lento, de contemplação mesmo, das tomadas). Talvez não seja um filme para ver e rever 10 vezes, mas, definitivamente, um filme que precisa ser visto ao menos uma vez na vida. Aprender a viver bem com os outros, respeitar seus limites, saber que um dia você também vai ficar velho e morrer. Será que você está aproveitando o melhor da vida? Ou vai ficar esperando uma oportunidade que talvez tenha passado e você não aproveitou? Profundas reflexões me aguardam, ainda mais nesta época de fim de ano...
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