Terra em transe foi o primeiro filme da nossa lista que abandonei deliberadamente. Geralmente, assisto aos filmes de madrugada, no único horário que me resta, depois de um dia cansativo de trabalho. E este, definitivamente, não pode ser visto desta forma. Tem que ter foco. Pois bem: deixei a preguiça (e a má-vontade) de lado e, finalmente, parei para prestar atenção na história. E sabe que nem achei tão ruim desta vez?
Tá, não sou hipócrita de reverenciar clássicos só pra dizer que não gostei. Mas a trama política, contada de maneira mezzo realista mezzo alegórica, conseguiu chamar minha atenção. Claro que o filme não é só isso. No conteúdo, ele é político, mas na forma é poesia. Ou você achou aleatórias todas as citações explícitas a essa forma de arte durante o longa? "O país precisa de poetas. Os bons poetas, revolucionários, como aqueles românticos do passado" é uma delas. Mas outra boa também é: "A política e a poesia são demais para um só homem". Será? Pois, para mim, Terra em transe é o modo que Glauber Rocha encontrou para dizer justamente o contrário.
Sim, as interpretações são teatrais. Sim, muitas falas são empostadas e não convencem. Sim, algumas cenas não estão ali para fazer sentido, mas para provocar sensações. Mas o filme faz você pensar. As referências religiosas a todo momento também não são gratuitas. As marcas da ditadura não foram esquecidas. O jogo de interesses é escancarado. Impressionante a disparidade entre o discurso e a ação: enquanto vemos os políticos falarem para o povo e "em nome do povo", o povo mesmo continua miserável. "Já pensaram Jerônimo no poder?".
Quer outro motivo para gostar do filme? Pois ele tem nome e sobrenome: Paulo Autran. Vê-lo em cena já justifica todo o resto, ainda mais ao lado de Paulo Gracindo, Francisco Milani, Flávio Migliaccio e tantos outros. Tá vendo só? Eu podia ter perdido isso.
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