Que tal experimentar ver a vida com outros olhos? |
Sabe aqueles filmes que marcam a vida da gente? Não importa o motivo, mas a gente gosta de qualquer jeito e se emociona toda santa vez que assiste? Esse é o meu caso com Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989). Lembro de ter assistido pela primeira vez quando era uma adolescente, e por sugestão de uma professora de Português que era uma espécie de John Keating para mim. Fiquei anos sem rever o longa, que desde a primeira vez que assisti se tornou um dos meus favoritos - mesmo sem eu ter muita noção de cinema (habilidade que ainda estou desenvolvendo) ou do porquê ele me tocar tanto. Foi ao assistir novamente para o blog que eu pude compreender inteiramente a importância dele na minha vida.
Em um rígido colégio interno e exclusivamente de meninos, um jovem professor, ex-aluno do colégio, causa uma revolução com seus métodos de ensino diferentes dos habituais da instituição. John Keating (Robin Williams, simplesmente inspirador) é o responsável pela mudança na vida dos jovens da escola, que abraçando ou não as ideias do professor, acabaram tendo suas vidas transformadas com o decorrer do tempo. Keating chega trazendo um sopro de juventude e pensamento inovador em um local dominado por senhores austeros e metodologia chata de ensino. Ele instiga os jovens a pensarem por si próprios, a agirem como quiserem, a serem quem quiserem. A forma apaixonada como lida com a Literatura, sua disciplina, abala as convicções de alguns dos jovens que se viam divididos entre a vontade própria e as obrigações de serem bons alunos e motivo de orgulho para os pais. Era o caso de Neil (Robert Sean Leonard, perfeito), que sempre se dobrava aos duros conselhos do pai e sufocava seu talento para a interpretação, e do jovem Todd (Ethan Hawke, que soava realmente promissor) que vivia à sombra da ótima reputação do irmão mais velho e ex-aluno queridinho da escola.
Literatura e futebol. Ora, por que não? |
Neil era um dos mais empolgados com os métodos diferentes do professor, e foi procurar saber mais sobre ele. No anuário, descobriu uma referência à uma Sociedade dos Poetas Mortos. Junto com seus amigos Todd, Knox (Josh Charles), Meeks (Allelon Ruggiero), Charlie (Gale Hansen), Pitts (James Waterson) e um desconfiado Cameron (Dylan Kussman), foram indagar o professor sobre o que era a Sociedade. Ele lhes disse que se tratava de um grupo dedicado à leitura de poesias, que se encontravam em uma caverna no meio do bosque nos arredores do colégio. Mas não era só isso, era um grupo que celebrava a vida. Inspirados pela ideia, eles resolvem recriar a Sociedade. Os encontros começam e as aulas do professor ficam ainda mais inspiradoras. Keating parece perceber que seus alunos são pólvora e quer ser a fagulha que incendiará a vida neles. E, de certa forma, os rapazes percebem isso e aceitam serem incendiados. Knox decide tentar conquistar o amor de sua vida, uma menina que está noiva de um capitão de time de futebol; Neil decide finalmente tentar uma vaga em uma peça de teatro, e vai aos ensaios escondido dos pais e dos diretores do colégio; Todd vence seu medo de falar em público e descobre em si um potencial artístico que nem sabia que existia; Charlie mergulha tanto nesse universo de lutar pela própria liberdade que acaba por se renomear, em homenagem aos ancestrais índios, e quer ser chamado de Nuwanda e começa a se exaltar em sua rebeldia. Era um indício de que as coisas começariam a dar errado. Charlie acaba sendo expulso do colégio depois de uma brincadeirinha de mau gosto publicada no jornal da escola em nome da Sociedade - mas não delata os amigos.
Quando Neil tem que enfrentar o pai para seguir seu sonho de ser ator, ele acaba cedendo. Compromete-se a abandonar o teatro a voltar para os estudos, mas com a chance de se apresentar enquanto o pai estivesse fora da cidade o fizeram arriscar. Neil arrasa em sua interpretação como o Duende na peça shakespeariana "Sonhos de uma noite de verão" e deixa os amigos e o professor Keating orgulhosíssimos. Mas o pai de Neil estava lá, e o obriga a voltar para casa com ele, e ainda diz que vai tirá-lo da Academia Welton e inscreve-lo numa escola militar no dia seguinte. Sabendo que o pai não mentiria quanto a essas promessas e prevendo um futuro infeliz, onde não podia realizar seu maior sonho nem fazer o que quer que ele desejasse fazer para ser feliz, o jovem então se suicida. O pai culpa a Sociedade dos Poetas mortos, e os diretores do colégio partem para uma caça às bruxas. Os alunos voltam a ter aulas com o diretor do colégio, no método tradicional de ensino, e o professor Keating é banido do colégio, levando toda a culpa por ter incitado a rebeldia que resultou no suicídio de Neil. Mas os verdadeiros Poetas Mortos não seriam mais os mesmos garotos tímidos e submissos - eles, apesar de não poder fazer nada a respeito da expulsão do professor, demonstram a sua lealdade e gratidão a ele, por tudo o que ele fez por eles naquele ano em que esteve no colégio, numa das cenas mais emocionantes do filme.
Oh Capitain, my Capitain! |
Quando os alunos todos ficam de pé, sobre as carteiras, e dizem "Capitão, meu Capitão!" mesmo sob os protestos e ameaças do diretor, é impossível segurar as lágrimas. Os olhos marejados de Williams ao fim da cena demonstram o orgulho de um professor que viu a semente brotar e sabe que seu trabalho foi realizado, e que a luta pela liberdade e pelo que há de mais bonito na vida, pela humanidade que existe em nós, não estava perdida. Os que ousaram se levantar são a prova de que basta uma ideia bem construída e coragem para seguir adiante - e foi isso o que ele devolveu aos garotos: coragem de ser eles mesmos. A atuação brilhante de Williams e a paixão de Leonard são peça chave na construção dessa pérola cinematográfica: por estarem tão entregues a seus personagens, alimentados de paixão, eles inspiram qualquer um. Hawke também delineou bem seu personagem Todd, que cresce e amadurece a olhos vistos em cena - aliás, a cena em que ele tem que declamar uma poesia criada sob pressão é linda. Ver (e rever) esse filme me faz voltar a acreditar que a gente deve sim seguir nossos sonhos, apesar dos pesares. Devemos lutar pelo que nos faz feliz e não nos conformar com o que nos cabe, ou que nos é oferecido, sem nunca esquecer das consequências. "Sugar o tutano da vida" faz cada vez mais sentido, e o famosíssimo "carpe diem" não significa sair por aí fazendo loucuras, mas descobrir que podemos ser felizes aproveitando até mesmo as pequenas alegrias. Fazer valer a pena uma vida, e não deixar que a vida passe por nós.
Engraçado que dia desses eu estava no ônibus, indo para o trabalho, e entreouvi uma conversa de duas jovens. Uma delas comentava que assistir a Sociedade dos Poetas Mortos havia sido crucial para ela decidir que queria ser professora, porque ela se viu inspirada a fazer o mesmo que o professor Keating tinha feito com os alunos. Ela dizia que faltava amor pela boa literatura e que os jovens estavam se contentando com pouco, que o mundo seria muito melhor se houvesse mais gente interessada em fazer poesia do que em ostentar nas redes sociais. A minha vontade era de virar para trás e abraçar a moça, e dizer que ela estava no caminho certo. Mas como isso seria, no mínimo, estranho, decidi apenas agradecer mentalmente aos realizadores do filme por terem eternizado essa obra, e ao querido Robin Williams, que vai continuar inspirando gerações de pessoas como aquela futura professora.
3 comentários:
Esse filme é de chorar......e muito.
Pior que trabalhei numa escola e o diretor metia o pau no filme ao dizer que ele não era pedagógico.....
Ele tem emoção e isso é vida. Eu dizia a ele.
Resultado::::::::::ele saiu da escola. kkk
Olá, Renato!
Que relato bacana! Eu confesso que sempre torci para que aquele mala do diretor do filme também fosse expulso da Academia Welton e que o Keating voltasse como novo diretor rs
Obrigada pela visita e volte sempre!
Aí a pessoa gosta tanto do filme que já escreve a sequencia, né Geisy???
KKKK
Postar um comentário