Ditos populares são ótimos termômetros da vida. Sempre aparecem quando a gente aprende alguma coisa, seja porque acertamos ou porque erramos. Confesso que nunca tinha visto um dito popular ser tão acertado na vida de alguém quanto o que dá título a essa resenha e a história de Piaf - um hino ao amor (La Môme, 2007).
Eu conhecia a cantora apenas de nome, e algumas das músicas apenas por ter ouvido aqui ou acolá, seja como trilha de algum filme ou nos estudos de francês da minha mãe. Não sabia que ela era O ícone da música francesa, que suas canções tinham letras que mesclavam drama romântico e comédia cotidiana. E não podia imaginar a tragédia que era sua vida pessoal. O abandono da mãe, a saúde frágil, a infância no bordel da avó, a relutância em aceitar seu dom - mas a necessidade de sobreviver fazendo descobrir-se uma artista, a adolescência desregrada e toda a luta e ajuda que recebeu até chegar ao estrelato.
O retrato que pintaram dela nos deixa uma impressão triste. Piaf não foi uma mulher feliz em sua vida, apenas uma mulher movida à esperança. Até mesmo a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido, seu maravilhoso dom de cantar, no fim transformou-se em um amargo vício. Mesmo debilitada, ela precisava cantar pois precisava se illudir que era feliz. Mesmo que já não tivesse mais forças para estar de pé, cantar era a única coisa que importava para ela - pois quando ela era Edith Piaf, no palco, encantando a França e o mundo, ela era maior do que aquela garotinha doente e sua trágica história de vida. Cantando, ela era alguém.
Uma história triste de um ícone mundial, contado de forma brilhante. A narrativa e forma de linha do tempo desconstruída é interessante, pois nos faz pensar no processo de ação e reação. Ela se tornou uma mulher arrogante e egocêntrica porque se sentia no direito de esbanjar as coisas que tinha tão arduamente conquistado. Um talento extraordinário e a personalidade forte foram moldados na infância dura e na saúde frágil. Uma mulher que amava a vida tão intensamente fora privada de suas paixões: o homem que amava e a música. É fascinante a forma como tudo é explicado nas entrelinhas do filme.
A produção é afinada. Fotografia, direção de arte, figurino e maquiagem, elenco, direção e, claro, a trilha sonora. Tudo funciona como uma orquestra. Até mesmo uma certa inconstância na atuação de Marion Cotillard - que na maior parte está maravilhosa, mas vez ou outra escorregava na afetação, mas provavelmente eu estou sendo crítica demais - não afetam o resultado final estupendo. O filme termina e a gente se sente atropelado por um caminhão, ao ter presenciado o nascimento, a ascenção e a queda de um mito. Devia ser a mesma sensação dos que tiveram o privilégio de conhecê-la pessoalmente.
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